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BM: No último sábado você conquistou o título de campeão
paraibano de xadrez do ano de 2018. Provavelmente você é o enxadrista mais
jovem a obter esse título. Como você avalia essa importante conquista?
Tomaz: Essa vitória foi marcante para mim,
pois esse era, há bastante tempo, um dos meus objetivos. Foram 6 anos de
tentativas, estudo e esforço. Este não foi um resultado que veio fácil, por
isso a dificuldade o tornou muito mais gratificante.
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BM: Como foi sua preparação para o match contra Doriedson
Lemos?
Tomaz: Para
este match não segui uma preparação específica, fiz apenas o que gosto de
fazer: assisti séries, ouvi músicas, dormi bem e tentei pensar o mínimo
possível no match e esquecer qualquer pretensão de vitória, buscando me
divertir, fazer meu melhor e simplesmente jogar xadrez. O que viesse seria
lucro!
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BM: Você poderia fazer uma breve análise do match?
Tomaz: O
match foi muito bem organizado pela Federação Paraibana de Xadrez. O ambiente
era confortável e o clima agradável. No que tange às questões técnicas, o match
foi duro pra mim. Devido à falta de preparação, busquei desviar da teoria na
abertura e fiquei com uma posição algo incômoda na primeira partida, porém,
devido a algumas imprecisões do meu adversário, ganhei um peão. Consegui uma
posição vencedora, mas, em um instante de distração, levei um duplo previamente
calculado e fiquei virtualmente perdido. Contudo meu adversário caiu em
apuro de tempo, cometeu novas imprecisões e num final absolutamente empatado
levou o Rei para a casa errada, me permitindo alcançar o primeiro ponto. Essa
derrota abalou o campeão Doriedson Lemos, e o intervalo de 10 minutos até a
segunda partida certamente não foi suficiente para sua recomposição. Na segunda
partida, Doriedson perdeu 2 peões em plena abertura. Por imprecisão minha ele
recuperou um peão, mas às custas de uma troca de Damas que me levava a um final
superior, que felizmente consegui converter em vitória. Quanto à terceira
partida, houve empate por comum acordo.
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BM: O que você achou do formato de disputa do campeonato
paraibano de xadrez 2018?
Tomaz: Eu
tenho muitas ressalvas quanto a esse formato. Eu acredito que o título de
campeão paraibano de xadrez deveria levar em consideração mais variáveis do que
o formato atual. Em primeiro lugar, no formato atual vencer o campeonato
paraibano não se mostra significativo: uma disputa de 3 partidas em um único
dia não refletem de forma alguma a trajetória de um ano todo de trabalho por
parte dos enxadristas. Eu sou inferior a Doriedson em técnica e conhecimento
enxadrístico, embora a diferença não seja muito grande, mas eu o venci. Mas
isso não me torna o melhor jogador do estado, nem superior ao Doriedson,
significa apenas que em 1 dia (em 365 dias) eu joguei um pouco melhor que ele.
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BM: Você gostaria de sugerir alguma modificação nesse
formato de disputa?
Tomaz: Esse
formato não é nada atrativo nem reflete a realidade, na minha opinião. Eu acho
que o Campeonato Paraibano deveria privilegiar o jogador que apoia e contribui
para o crescimento do esporte. Creio que deveria ser disputado em várias etapas
e ritmos ao longo do ano, onde os jogadores iriam somando pontos e, ao final,
aquele que somasse mais pontos seria o campeão. Esse formato incentivaria a
participação dos jogadores nos eventos da federação, refletiria o trabalho dos
jogadores no ano e obrigaria aqueles "mais cotados" a jogarem. Mas,
acima de tudo, daria oportunidade ao verdadeiro campeão paraibano: o jogador
que ama o esporte, se desloca para jogar torneios, está sempre participando e
incentivando nosso jogo ciência. Isso é mais importante que o resultado, e
esses jogadores merecem ser muito mais privilegiados do que são atualmente, porque é graças a eles que o xadrez vive em nosso estado!
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BM: Seus resultados competitivos vêm melhorando a cada ano.
Você acredita que pode continuar evoluindo até alcançar o título de Mestre
FIDE, ou você tem outras prioridades?
Tomaz: Não
tenho mais pretensão de ser mestre. Tive esse desejo por muito tempo, mas esse
desejo me fez esquecer por um bom tempo sobre o que o xadrez é: xadrez é sobre
fazer amigos, sobre vencer a si mesmo e não aos outros, é um instrumento que
auxilia a entender a vida! Eu tenho o comprometimento de ser feliz, entender o
xadrez através desse amor incondicional que tenho pelo jogo e fazer o melhor
que eu puder. Se um título vier, certamente acharei bacana, mas é a busca, o
caminho, que verdadeiramente me encanta.
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BM: Seria muito bom se o xadrez fosse mais reconhecido e
valorizado em nosso país. O que você acha que está faltando para que isso
aconteça?
Tomaz: Falta
incentivo à educação e cultura. Outro fator relevante é que no Brasil o xadrez
não é apresentado de modo inteligente: não há um amplo trabalho de base, não há
uso inteligente e extensivo de publicidade e propaganda, que é um dos
principais modos de captação de recursos pelos esportes (vide o futebol). A
ausência de apoio, seja do Estado ou de entidades privadas e a falta de
competitividade internacional (de um jogador de topo) também são outros
agravantes. Claro, se não temos jogadores de topo é devido à falta de apoio.
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BM: Agora na condição de campeão paraibano de xadrez, como
você espera contribuir para o desenvolvimento desse esporte em nosso estado?
Tomaz: Minha
capacidade de interferir na dinâmica do xadrez na Paraíba é verdadeiramente limitada.
Eu tenho muitos planos que gostaria de implementar, mas não disponho de recurso
algum para executá-los. É difícil ser levado a sério com 21 anos de idade (risos).
Mas espero poder difundir mais o xadrez, usar o pouco de conhecimento que tenho
e ajudar a orientar qualquer pessoa que busque minha ajuda para entender mais o
jogo. Gostaria realmente de usar este título para criar algo bom, e desde já
estou aberto a sugestões.
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BM: Quais são os seus planos para 2019 com relação ao
xadrez?
Tomaz: Eu
pretendo me distanciar um pouco do xadrez em 2019, para estudar e buscar um
emprego. Hoje minha renda provém exclusivamente das premiações de torneio, e
está realmente difícil me manter dessa forma. Tentei ser professor de xadrez
(certamente um dos meus sonhos), mas não tive sucesso. Portanto, meu objetivo
será tentar passar em um concurso e conseguir recursos. Um dia, quando adquirir
estabilidade, retornarei ao xadrez para lutar pelas mudanças que acho
necessárias.
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BM: Ao encerrarmos a entrevista, gostaria que você deixasse
uma mensagem aos leitores do blog.
Tomaz:
Minha mensagem é: acredite em si mesmo! Tenha fé em si mesmo e seja sempre o
melhor que puder ser! Um dia, aos 10 anos, eu quis jogar xadrez. Desde aquele
dia, mais de 11 anos se passaram, muitos momentos bons e muitas dificuldades, 6
anos de tentativas até conseguir chegar a vencer o Campeonato Paraibano... Na
vida as coisas não vêm fácil, mas para quem persevera, uma hora elas chegam.
Então tente, enquanto você não desistir, há esperança! Aproveito este espaço
para agradecer à FPBX pelo apoio e patrocínio nessa jornada, em especial a
Fernando Melo e Genildo Gomes por acreditarem em mim, e também a Arthur Olinto,
meu estimado técnico e amigo de longa data! Desejo felicidades a todos! Gens una
sumus!!
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