terça-feira, 22 de setembro de 2020

O DIA EM QUE FISCHER "COCHILOU" AO TABULEIRO

 

Como já mencionamos em outras oportunidades, o livro Duelos de xadrez: minhas partidas com os campeões mundiais, do GM Yasser Seirawan, está repleto de histórias curiosas e relatos interessantes sobre vários grandes jogadores, dentre eles nove ex-campeões mundiais de xadrez. É um livro fabuloso, uma obra que não pode faltar na biblioteca de um entusiasta do xadrez, e é sem dúvida um dos meus favoritos. 

Um desses relatos curiosos é uma história narrada pelo GM estadunidense Arthur Bisguier, já falecido, transcrita por Seirawan em seu livro, e que envolve ninguém menos do que o lendário Bobby Fischer. Com a palavra, Bisguier: Jogando contra Bobby no Aberto do Estado de Nova Iorque naquele ano [1963], percebi que ele estava demorando demais para jogar. Daí vi que ele tinha pegado no sono. Em alguns minutos a seta em seu relógio iria cair e ele perderia por tempo. Não é assim que gosto de ganhar partidas, torneios ou títulos. Por isso cometi o que alguns chamaram de maior erro do torneio. Eu acordei o Fischer. Bobby bocejou, deu seu lance, bateu no relógio e me derrotou. Essa acabou sendo a partida 45 em My 60 Memorable Games. Depois eu soube que Fischer tinha ficado acordado até tarde na noite anterior, jogando blitz para ganhar dinheiro”.

 

GM Arthur Bisguier (1929-2017)

 

Que bela história, hein amigos? Ao tomar conhecimento dela, chama-nos a atenção a conduta ética de Bisguier, ao se ver diante daquela situação inusitada. No momento em que ele percebeu que Fischer havia cochilado, certamente já deveria estar numa posição difícil no tabuleiro, mas não hesitou e despertou seu oponente, para não ter que vencer uma partida contra um adversário mais qualificado de um modo pouco digno. Eu teria feito exatamente a mesma coisa no lugar dele. Em uma época de competitividade exacerbada como a nossa, em que muitos jogadores trapaceiam e procuram vencer de qualquer maneira, mesmo que para isso tenham que fazer uso de meios escusos, a atitude de Bisguier perante Fischer nos leva de volta aos tempos do xadrez romântico, em que o comportamento cavalheiresco dos jogadores era a regra, e não a exceção. Que possamos resgatar este comportamento nobre e cavalheiresco nos dias de hoje, tanto nos esportes quanto na vida cotidiana, é o que eu sinceramente espero. Salve, Arthur Bisguier!


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