Na publicação de hoje da Seção Xadrez nas Artes, vamos apresentar mais uma pérola literária de autoria de Malba Tahan, pseudônimo do brilhante, porém pouco conhecido, escritor brasileiro Júlio César de Mello e Souza (1895-1974).
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Ilustração do árabe Malba Tahan
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Júlio César deve ter sido um apreciador do xadrez, pois escreveu alguns contos sobre o assunto, dentre eles o que narra a lenda da criação do jogo. Aqui no blog, já tivemos a oportunidade de publicar o conto intitulado "Xeque-mate no Diabo", também de autoria de Malba Tahan, por ocasião da abertura da Seção Xadrez nas Artes. Agora, quero trazer para vocês mais uma bela narrativa que tem o xadrez como tema central. O texto é longo, mas vale a pena conhecê-lo... desfrutem a leitura!
A Estranha Aventura de Nabuck
Depois
de esfregar, durante meio minuto, com o polegar da mão direita, a
ponta do nariz, o singular viajante voltou-se para mim e interpelou-me
muito sério.
- Disseram-me que o senhor gostaria de conhecer a estranha aventura de Jan Nabuck. É verdade?
- Sim, é verdade - confirmei oferecendo-lhe um cigarro. – Interessa-me vivamente essa narrativa.
-
Para atender ao seu desejo - tornou o viajante depois de acender
lentamente o cigarro - encontro apenas uma dificuldade. Não sei como
iniciar a história.
-
Ora, meu amigo, - repliquei de bom humor - conte-a de qualquer
maneira. Se achar preferível adote a ordem inversa. Tome como ponto de
partida o fim e faça-a terminar pelo princípio.
-
Não, isso não - discordou logo o hindu. - Acho preferível dizer-lhe
desde já como conheci Jan Nabuck, esse herói prodigioso que conseguiu
iludir oitenta e seis vezes os homens mais argutos de meu país.
E depois de ligeira pausa, o viajante afastou os embrulhos que se achavam na sua frente, e assim começou:
Interessado
no comércio de seda e artigos de luxo, resolvi (já lá se vão muitos
anos), percorrer a rica província de Bidjapore, no norte da Índia.
Bidjapore,
com seus templos atulhados de ídolos, é uma cidade curiosa, que os
mapas representam por uma rodelinha preta do tamanho do olho de uma
borboleta. Veja-a, porém, como a conheci naquele tempo, recortada por
três riachos marulhantes, de águas cristalinas e refrescantes, onde
budistas seminus ao cair da tarde faziam as complicadas abluções do seu
ritual. O mercado da cidade mais parecia uma colônia de loucos
encravada num labirinto de vielas tortuosas; era o valhacouto predileto
de um sem-número de aventureiros indígenas e faquires esqueléticos
nascidos e criados nos recantos mais misteriosos da Índia.
Acotovelavam-se ali homens sem casta e tipos da pior espécie. Guardas
sombrios, de aspecto facinoroso, rodavam ameaçadores as tendas e os
bazares, gritando aos mercadores com profissional brutalidade: "Shá
Baik tug churgrigue!" - frase grosseira, até mesmo vilipendiosa, cuja
tradução manda o decoro que eu cale.
Pois
uma tarde, ao deixar o barulhento mercado de Bidjapore, pretendia
atravessar em diagonal a velha Praça de Chaísta, quando ouvi intenso
rufar de tambores. O som estridente de um clarim espantou as pequenas
andorinhas cor de chumbo que iam em busca de refúgio na velha Torre dos
Mercadores.
Percebi
logo do que se tratava. Grande e suntuoso cortejo, precedido de
músicos e batedores, descia ao passo lento de pesadíssimos elefantes a
Rua de Sambadji. Em poucos minutos a praça fervilhava de curiosos e
desocupados. Um jovem a meu lado perguntou-me, num sussurro de voz,
quem seria aquele representante da honrosa estirpe dos brâmanes que se
dava ao luxo de percorrer a cidade no alto de um paquiderme com tão
poderosa escolta.
Voltei-me
para o desconhecido e observei-o baixando de relance os olhos. Era
muito moço ainda, de rosto moreno e redondo. Os olhos pequeninos e
vivazes mexiam-se num misto de inquietação e alegria; falava em dialeto
"malua", correta e expressivamente.
-
Bem se vê que o senhor é estrangeiro - retorqui atencioso. - Devo
dizer-lhe que o figurão que ali vai, com longas barbas pretas e
turbante azul, precedido de rabequistas e seguido por vários servos,
não é príncipe nem pessoa de fina nobreza hindu. É apenas um jogador de
xadrez, ou melhor, um grande e notável enxadrista!
- Um enxadrista! - exclamou o rapaz do rosto redondo. - Que faz um enxadrista?
- Já lhe disse, meu amigo - repliquei encarando-o com firmeza - joga xadrez! Aquele vaidoso nedjid
não se ocupa de outra coisa. Figura, aliás, entre os maiores campeões
da Índia! O nosso glorioso soberano, o marajá Calidur, deixou-se
dominar pela terrível mania desse complicado passatempo que o
transformou num obcecado. Esbanja grande parte do seu belo patrimônio
em prêmios e pensões aos enxadristas. Jogadores há que recebem por
conta do tesouro real ordenados fabulosos. Alguns já chegaram até a
ministro de Estado! No palácio do marajá existem salões imensos,
decorados por artistas geniais, onde se realizam quase todos os dias
torneios memoráveis. Batem-se os exímios profissionais em grandes
tabuleiros de madrepérola com peças de ouro e marfim.
E disse mais ainda:
-
O marajá Calidur, quando se resolve a visitar as diversas cidades de
sua extensa província, leva na sua imensa bagagem pequenos tabuleiros
feitos de couro de elefante. A esses tabuleiros as peças aderem por
meio de um engenhoso dispositivo, e isso permite que as partidas sejam
disputadas durante a jornada, entre os solavancos dos camelos de sela!
- É muito curioso! - comentou risonho o estrangeiro. - O seu marajá é um príncipe que bem mereceria o titulo de original!
E, depois de um minuto de reflexivo silêncio, interpelou-me muito sério:
- Seria audácia de minha parte pedir-lhe que me explicasse em que consiste o jogo de xadrez?
E sem esperar resposta acrescentou:
- Chamo-me Jan Nabuck. Cheguei ontem de Malua e neste belo país de enxadristas tudo parece tão interessante e singular!
Agradou-me a simplicidade e a delicadeza do pedido. Respondi:
- Terei nisso o maior prazer. Vamos até àquela pequena hospedaria que tem um corvo de duas cabeças desenhado no alto da porta.
E apontei para a casa do velho Timur, apelidado Topada.
Alguns minutos depois já nos achávamos abancados no fundo de uma sala escura da estalagem.
- Traga-me um bom tabuleiro! - Ordenei ao estalajadeiro, atirando para a mesa uma rúpia de cobre.
O Topada
trouxe-nos uma coleção de peças de osso e uma prancha grosseira
onde as sessenta e quatro casas apareciam pintadas de preto e
vermelho-alaranjado.
Depois de arrumar em seus respectivos lugares todos os reis, damas,
peões, bispos, torres e cavalos, expliquei em poucas palavras ao jovem
Jan Nabuck em que consistia o jogo de xadrez. Esta peça (apontei para a
dama) é a mais poderosa; caminha para frente, para trás, no sentido
normal ou em diagonal. Esta outra é o cavalo - a única que pode saltar
sobre as demais. Aqui está a torre, elemento valioso para o ataque...
- Basta! - interrompeu Jan Nabuck, erguendo-se de golpe. - Já compreendi o jogo! Vou desafiar os campeões do marajá!
Procurei
dissuadi-lo daquela ideia alucinada. O jogo de xadrez não consistia
apenas no movimento das peças; possuía mil e um segredos. Ataques
dificílimos, xeques, lances cheios de sutilezas, combinações
engenhosas!
-
Mas eu já sei o suficiente! - declarou o jovem, com decidida
obstinação. - Para mim basta o que aprendi hoje. Sinto-me capaz de me
bater contra os campeões de Bidjapore! Adeus, ó Topada!
Tomei-o
delicadamente pelo braço e aconselhei-o, com calma, a não desafiar
jogador algum. Queria adverti-lo do perigo a que se iria expor. Seria
mais que uma imprudência: uma verdadeira loucura. O príncipe de Calidur
trazia o espírito envenenado por uma vaidade quase mórbida e não
admitia que se pusesse em dúvida a capacidade de seus enxadristas. Quem
quer que se atrevesse a um desafio e fosse infeliz corria o risco de
ser castigado impiedosamente. O carrasco da corte não ficava, por
vezes, alheio ao resultado.
Não
houve, porém, argumento ou aviso que demovesse o jovem Nabuck da
resolução pertinaz e absurda que tomara. Estava decidido a desafiar os
campeões da corte e ia naquele mesmo dia procurar o príncipe.
- Deixai-o ir! - resmungou o Topada trejeitando uma careta. - Deixai-o ir! Amanhã aparecerá aqui, aos gritos, com as orelhas cortadas!
E o aventureiro de Malua naquele mesmo instante partiu para o palácio do marajá. Ia desafiar os campeões de Bidjapore!
Lamentei o triste destino de um jovem tão simpático e bem-apessoado.
Que temeridade! Mal aprendera os nomes das peças e já queria por em xeque a perícia dos grandes mestres.
No
dia seguinte, com grande espanto, fui informado de que o inteligente
Jan Nabuck, o aventureiro, havia alcançado espantosa vitória batendo-se
contra os dois maiores campeões da Índia. O príncipe, encantado com a
incrível proeza do jovem, hospedara-o com todas as honras num dos mais
luxuosos aposentos do palácio.
Surpreendido com a incrível nova, resolvi apurar a verdade e parti sem demora para a soberba residência do marajá.
Jan Nabuck recebeu-me com inequívocas demonstrações de alegria. O marajá cumulara-o de valiosos presentes.
-
Já havia pensado em procurá-lo, meu caro mestre, - declarou
abraçando-me com simpatia. - Devo-lhe, sem dúvida alguma, a cobiçável
riqueza que agora possuo e o prestígio de que me vejo cercado. - E, num
gesto elegante e amável, presenteou-me com uma belíssima esmeralda que
valia nada menos de cinco mil rúpias.
Aquela
aventura para mim estava ainda envolta num espantoso mistério.
Sobressaltou-me a impressão do que deveria haver em torno de tudo
aquilo, agindo na sombra a mão milagrosa do sobrenatural.
Não me contive. Interpelei-o sem mais demora.
-
Vamos lá, meu amigo! Estarei eu por acaso dominado por alguma
alucinação? Não posso crer de forma alguma que um estrangeiro que mal
sabe mover as peças possa vencer em torneio jogadores de alta
envergadura. Bem sei que no xadrez só vale realmente a técnica pessoal,
a habilidade de cada um. A sorte em nada influi.
-
Pois lhe asseguro que foi justamente a sorte que me valeu - replicou
Jan Nabuck. - Vou contar-lhe o que se passou e verá se fui ou não
beneficiado por circunstâncias felizes do acaso.
Levou-me
para um recanto do magnífico aposento. Acomodamo-nos em grandes
almofadas de penas. Ofereceu-me doces, frutas e pequenas pastilhas
perfumadas. E ali, com a maior tranquilidade, pude ouvir de Jan Nabuck o
relato de sua estranha aventura.
-
Logo que cheguei ao portão do palácio, uma sentinela barrou-me a
passagem. Declarei a minha condição de enxadrista e graças a esse
título fui no mesmo instante levado à presença do marajá. Encontrei-o
rodeado de vários cortesãos, todos, ou quase todos, enxadristas de
mérito.
- "Que desejas de mim, ó jovem?" - perguntou-me, de boa-sombra, o poderoso príncipe.
Declarei
que ali fora com o único intuito de lançar um desafio aos enxadristas
de Bidjapore. Obtemperou-me Sua Alteza com majestade e soberania:
- "E há quantos anos cultivas esse nobilitante passatempo?"
Achei que não devia mentir e respondi:
- "Aprendi esse belíssimo passatempo hoje na hospedaria do Topada.
Conheço todas as peças e seus movimentos! Para mim já é o suficiente.
Julgo-me capaz de me bater contra os campeões mais fortes deste país!"
Ao ouvir aquela declaração o marajá desatou numa casquinada de riso e, voltando-se para os amigos que o rodeavam, exclamou:
-
"Já viram sob o céu da Índia maior petulância? Este aventureirozinho
atrevido aprendeu hoje numa hospedaria a mover as peças e já se sente
em condições de figurar em torneios. É espantoso!" - E com um sorriso
transbordante de sarcasmo, aconselhou-me num tom quase paternal:
-
"Escuta, meu filho! Volta para a tua casa e procura cuidar de tua
vida; trata de comer o teu arroz sossegado e de rezar ao deus de
Maghala! Isso de saber jogar xadrez é coisa muito séria. O jogo de
Sessa é cheio de artifícios, lances de defesa, xeques descobertos,
xeques duplos, roques com o rei e mil outros pequeninos segredos que só
um sábio poderia enumerar!"
-
"Os segredos não me interessam, Príncipe!" - declarei tranquilo – "Vim
aqui resolvido a desafiar os seus campeões! Aceita ou recusa Vossa
Alteza o meu desafio?"
Essas
palavras pronunciadas com a firmeza de uma confiança absoluta levaram o
príncipe Calidur aos extremos do furor. Sua exaltação não tinha mais
limites.
-
"Chacal, filho de chacal!" - gritou com voz tremente e os olhos
fuzilantes. - "Não queres ouvir meu conselho? Insistes em levar até o
fim a tua loucura? Pois verás como sei tornar negro e amargo o
arrependimento dos insolentes! Juro pelas sete faces de Buda que não
terei por ti a menor parcela de piedade! Aceito o teu desafio e
concedo-te uma vantagem: podes escolher, entre os meus campeões, o
adversário que quiseres".
-
"Perdão, Alteza" - discordei respeitoso. – "Um jogador só é pouco para
mim! Quero bater-me contra dois, isto é, contra dois ao mesmo tempo!
Jogarei duas partidas simultaneamente!"
-
"Pela sagrada coluna de Siva!" - rugiu furiosamente o marajá, soltando
uma risada seca e áspera. – "E incrível! Ó sevandija! Mal sabes mover
os peões e ousas desafiar dois campeões de Bidjapore!
E espumando de cólera, com agudos olhos a faiscar, sentenciou:
-
"Aceito! Jogarás contra dois de meus campeões. Se conseguires vencer
um deles, mesmo que sejas vencido pelo outro, receberás vinte mil rúpias de
prêmio! Se empatares as duas partidas o prêmio será duplo! Dada, porém,
a hipótese (e será esse com certeza o resultado) de perderes as duas
partidas, terás a orelha decepada!"
Não me perturbei diante da grave ameaça e respondi impassível, alçando o rosto:
- "Concordo com as condições. Exijo apenas que as partidas sejam jogadas sem testemunhas e em salas separadas".
Tudo foi feito exatamente como sugeri.
O
príncipe, no mesmo instante, indicou aqueles que seriam meus
adversários. Sua escolha recaiu sobre Zalenin e Nadjibe - dois grandes
mestres do enxadrismo hindu.
O
primeiro contava com mais de duas mil vitórias em torneios coletivos; o
outro já conquistara nada menos de quinhentas medalhas. Cabia-me
enfrentar dois campeões famosos, tidos como invencíveis. Zalenin
especializara-se nos ataques fulminantes; Nadjibe era admirável nos
lances espetaculares de defesa.
Em
salas separadas, ligadas apenas por um pequeno corredor, foram
colocados dois ricos tabuleiros. Num deles eu jogaria contra Zalenin
tendo este ilustre adversário as brancas e, portanto, o inicio do
ataque; no outro tabuleiro iria eu enfrentar Nadjibe, que jogaria com
as pretas, ficando eu, portanto, com a vantagem da saída. Pronto para o
torneio, coloquei-me diante de Zalenin e aguardei sereno o lance que
daria início ao tremendo embate. O famoso campeão, rompendo o ataque,
avançou duas casas com o peão da dama. Aleguei que ia pensar na
resposta e passei para a outra sala. Lá estava o tremendo Nadjibe
aguardando o meu lance inicial. Tomei do peão da dama e repeti
exatamente o lance que contra mim fizera Zalenin.
A
resposta não se fez esperar. Nadjibe avançou impetuoso com o cavalo do
rei. Voltei ao primeiro tabuleiro e fiz, jogando contra Zalenin, o tal
lance do cavalo que aprendera com Nadjibe.
E
assim, ora jogando com as pretas e logo depois movendo com as brancas,
ia repetindo num tabuleiro o lance que havia aprendido pouco antes, no
outro. Minha tarefa consistia apenas em fazer contra Zalenin o lance
de Nadjibe e aplicar em Nadjibe o ataque imaginado pelo talentoso
Zalenin. Graças ao meu artifício, a partida era a mesma nos dois
tabuleiros. Se as brancas vencessem, eu seria vitorioso, pois na
partida contra Nadjibe era eu que jogava com as brancas; se a vitória
coubesse às pretas eu teria o prêmio, pois no primeiro tabuleiro,
jogando contra o terrível Zalenin, moviam-se sob meu comando as pretas!
Cuidadosamente separados, em salas distantes e preocupados com o
desenrolar dos lances, os dois campeões de Bidjapore não perceberam que
estavam apenas jogando um contra o outro! No tabuleiro de Zalenin eu
fazia o lance de Nadjibe e contra este eu atirava o ataque do campeão!
- E como acabou essa curiosa farsa? - indaguei.
Respondeu Jan Nabuck:
-
Foi no resultado final que a sorte (como já disse) colaborou a meu
favor. Os campeões, no fim de quarenta e três lances, empataram!
Conclusão: para todos os efeitos "eu" (repare bem: eu) empatara com
Zalenin (jogando com pretas) e empatara também com Nadjibe (tendo o
partido das brancas). É inegável que esse resultado, para um
principiante que mal sabia mover as peças, era maravilhoso! Zalenin
elogiou minha defesa! Nadjibe exaltou meu ataque! Recebi do generoso
marajá, de acordo com a combinação feita, um prêmio avaliado em mais de
quarenta mil rúpias!
- E agora, que pretende fazer? - indaguei.
- Já declarei ao nobre Calidur que estou fatigadíssimo, inteiramente
esgotado e impossibilitado de tomar parte em outros torneios. Solicitei
alguns meses de repouso. Pretendo regressar hoje mesmo para minha
terra e dedicar-me à carreira do comércio. Mais tarde se tiver tempo,
procurarei aperfeiçoar-me no jogo de xadrez. É um jogo realmente
interessante, e parece-me não ser assim tão difícil como dizem!
E interpelou-me risonho:
-
Não acha você que foi bem merecido o prêmio que recebi? Repare bem.
Joguei duas partidas, num total de oitenta e seis lances!
Sim,
o prêmio fora bem merecido. O jovem Jan Nabuck, com seus oitenta e
seis lances, havia ensinado aos enxadristas de Bidjapore um novo golpe,
e esse golpe, tão engenhoso e seguro, tinha grave inconveniente: só
podia ser aplicado uma vez!
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