Amigo(a)s, estamos de volta, e hoje irei apresentar as respostas para o teste lançado na publicação intitulada Antonomásias no Xadrez, postada na semana passada. Naquela publicação, desafiamos os leitores a tentarem descobrir a que jogadores se referiam as 20 expressões listadas. Apenas a amiga Maria do Céu deixou sua opinião nos comentários, e expressou curiosidade em saber quem eram os outros jogadores além do "Ogro de Baku"... pois bem, chegou a hora de revelarmos os nomes desses enxadristas famosos!
1. A morte negra
Joseph Henry Blackburne (1841-1924) foi um proeminente enxadrista e compositor de problemas de xadrez britânico, e um dos melhores jogadores do mundo no final do século XIX. Seu estilo agressivo e sua grande habilidade tática lhe renderam o apelido de The Black Death, em alusão à terrível pandemia que assolou a Europa durante a Idade Média.
2. O idiota do xadrez
"O idiota do xadrez" foi um título conferido ao jogador ucraniano Ossip Bernstein (1882-1962), a pedido dele próprio! Conta a literatura enxadrística que certa vez Bernstein estava jogando uma partida contra o campeão suíço Gygli, e tinha uma posição vencedora, porém cometeu um erro que lhe causou a derrota. Algum tempo depois, Bernstein mostrou o erro cometido na partida a Emanuel Lasker. Neste momento, ocorreu o seguinte diálogo entre esses dois enxadristas:
Bernstein - Sou ou não um idiota no xadrez?
Lasker - Parece-me uma razoável explicação para seu lance.
Bernstein - Declararia isso por escrito?
Lasker - Com muito prazer.
Foi então redigido um documento, em linguagem legal apropriada, o qual foi assinado pelo Dr. Emanuel Lasker. E você aí achando que já tinha visto de tudo no xadrez, né não? 😂
3. O Morphy austríaco
No início da sua carreira, em Viena (Áustria), o futuro campeão mundial Wilhelm Steinitz (1836-1900) exibia um estilo de jogo agressivo e combinatório, seguindo os princípios do xadrez romântico, em voga por aqueles tempos. Foi nesse período que ele recebeu o apelido de "O Morphy austríaco", em referência ao grande gênio do xadrez tático, Paul Morphy, considerado o jogador mais forte do mundo na época. Foi somente em meados da década de 1870 que o estilo de Steinitz veio a passar por um processo de reformulação, tornando-se mais posicional e defensivo, e sua nova abordagem deu origem à Escola Moderna de pensamento enxadrístico, que viria a superar a velha Escola Romântica.
4. O preceptor germânico
Siegbert Tarrasch (1862-1934), natural da antiga Prússia, foi um dos melhores enxadristas do mundo no final do século XIX e princípios do século XX. Foi reconhecido como um grande professor e pesquisador do xadrez, apesar do seu estilo pedante e dogmático. Ganhou o apelido de "Preceptor Germânico" em razão de uma certa arrogância ao transmitir suas lições. A palavra preceptor significa "educador, mentor ou instrutor".
5. A máquina de jogar xadrez
"A máquina de jogar xadrez", ou simplesmente "A máquina", foi o apelido dado ao gênio cubano José Raul Capablanca (1888-1942), por motivos que dispensam comentários.
6. O último cavaleiro do Gambito do Rei
O enxadrista austríaco Rudolph Spielmann (1883-1942) era um forte jogador de ataque, considerado por alguns autores como o último representante da Escola Romântica de xadrez. Gostava de jogar gambitos, os quais costumava empregar com êxito, dentre eles o Gambito do Rei. Nas primeiras décadas do século XX, à medida que as técnicas defensivas iam se aprimorando cada vez mais, alguns jogadores começaram a ficar receosos de jogar gambitos e outras aberturas tidas como inferiores pela teoria, mas Spielmann continuou fiel ao seu estilo arriscado, motivo pelo qual ficou conhecido como "O último cavaleiro do Gambito do Rei".
7. O ogro de Baku
Essa daqui minha amiga Céu acertou! O "Ogro de Baku" foi o apelido dado a Kasparov (1963 - ), ao que parece por causa de sua mania de fazer caretas e trejeitos enquanto joga. Baku é a capital do Azerbaijão, país do sudoeste asiático, terra natal do "ogro". Kasparov, portanto, é azerbaijano (ou azeri), e não russo! Toda vez que vejo ou ouço alguém chamá-lo de russo, sinto um arrepio na espinha... rsrs.

8. O tigre de Madras
O tigre é sem dúvida um dos mais belos e mortíferos predadores da natureza, e até hoje é visto como um símbolo de força, coragem e ferocidade. O mais forte enxadrista indiano da história, o ex-campeão mundial Viswanathan Anand (1969 - ), por suas notáveis qualidades enxadrísticas, recebeu o apelido de "O tigre de Madras", em referência à sua cidade natal, que antigamente chamava-se Madras (hoje chama-se Chennai).
9. O príncipe da Dinamarca
"O príncipe da Dinamarca" foi um título atribuído ao jogador letão Aaron Nimzowitsch (1886-1935). Apesar de ter nascido em Riga, capital da Letônia, ele viveu na Dinamarca de 1922 até o ano da sua morte. Dizem que Nimzowitsch usava cartões de visita com a seguinte inscrição: "A. Nimzowitsch, candidato ao Campeonato do Mundo de xadrez e Príncipe Coroado do mundo do xadrez". Uma apresentação nada modesta, ainda mais se levarmos em conta que ele nunca foi de fato um sério aspirante ao título mundial.
10. O orgulho e a tristeza do xadrez
Este foi um título dado a Paul Morphy (1837-1884), por sua trajetória de altos e baixos no xadrez, indo da glória e da fama à obscuridade em um intervalo de poucos anos. Após excursionar pela Europa em 1858 e 1859, vencendo todos os principais mestres europeus com os quais se defrontou, Morphy chegou a ser aclamado o mais forte enxadrista do mundo em atividade; porém, ao retornar ao seu país, os Estados Unidos, ele abandonou o xadrez e logo depois passou a sofrer de distúrbios mentais. Em outra oportunidade, pretendo escrever um artigo contando mais detalhes sobre a sua vida.

11. O rei dos empates
Tem muita gente achando que o apelido de "O rei dos empates" deveria caber ao GM Anish Giri, mas na verdade, muito antes de Giri vir ao mundo, esse título já havia sido atribuído ao enxadrista austríaco Carl Schlechter (1874-1918), por causa da sua propensão para os empates, numa época em que este resultado era muito menos frequente do que hoje em dia. Ele tinha um estilo sólido e grande tenacidade defensiva, motivo pelo qual era um jogador difícil de ser batido. Em 1910, ele disputou um match válido pelo Campeonato Mundial contra Lasker, que, vejam vocês, terminou empatado em 5,0 a 5,0 (+1 -1 =8), fato que contribuiu para consolidar a fama de Schlechter. Pelas regras da disputa, com este resultado o campeão Lasker manteve o título.
12. O homem de gelo
Algumas fontes da literatura enxadrística de língua inglesa se referem ao russo Vladimir Kramnik (1975 - ) como The Iceman ("O homem de gelo"), muito provavelmente por causa da sua postura impassível diante do tabuleiro, sem demonstrar qualquer emoção perante o oponente. Esse apelido cairia muito bem em Karpov, já que ele também apresenta essa mesma característica.
13. O prodígio do Brooklyn
Acredito que muitos leitores tenham acertado essa... "o prodígio do Brooklyn" foi a antonomásia pela qual o garoto Bobby Fischer (1943-2008) passou a ser conhecido, ainda na sua adolescência, graças ao seu excepcional talento para o manejo dos trebelhos. Brooklyn é o nome de um bairro da cidade de Nova Iorque, onde Fischer cresceu. Alguns anos mais tarde ele conquistaria o Campeonato Mundial de 1972.
14. O mago de Riga
Essa também é muito fácil, concordam? Todos sabem quem é o "Mago de Riga", apelido conquistado pelo ex-campeão mundial Mikhail Tal (1936-1992) na sua juventude, por causa das suas brilhantes combinações, que pareciam obra de magia! Riga é a capital da Letônia, país do norte da Europa, terra natal de Mikhail.
15. O tigre de aço
"O tigre de aço", ou "Tigran de aço", era o apelido de Tigran Petrosian (1929-1984), outro ex-campeão mundial da nossa lista. O motivo desse qualificativo se explica pela grande tenacidade de Petrosian, um jogador que, nos seus melhores anos, era muito difícil de ser derrotado.

16. O Pelé do xadrez
Depois de obter destaque no cenário internacional, em meados da década de 1970, o brasileiro Henrique Mecking (1952 - ) começou a ser chamado de "O Pelé do xadrez", por alguns órgãos da imprensa nacional. Apesar da sua incontestável força, essa comparação, a meu ver, me parece um tanto exagerada, uma vez que Pelé alcançou muito mais êxito como futebolista do que Mecking como enxadrista.
17. O filósofo do xadrez
Devido à sua formação acadêmica em Filosofia (era também formado em Matemática), o segundo campeão mundial de xadrez, o alemão Emanuel Lasker (1868-1941), ficou conhecido como "O filósofo do xadrez".
18. O holandês voador
Segundo narra Kasparov no 2º volume da obra Meus Grandes Predecessores, durante o período em que esteve na presidência da FIDE (1970-1978), o holandês Max Euwe (1901-1981) recebeu a alcunha de "O holandês voador", graças ao seu trabalho incansável de divulgação do xadrez, que o obrigava a viajar constantemente ao redor do mundo. Essa antonomásia é uma alusão ao lendário navio-fantasma de mesmo nome, que teria como sina vagar pelos mares até o fim dos tempos, sem poder atracar em nenhum porto. Essa era difícil de acertar! 😀😀
19. O príncipe coroado
Paul Keres (1916-1975), natural da Estônia, foi durante décadas um dos melhores jogadores do mundo. Certas circunstâncias de ordem pessoal certamente o impediram de conquistar o título máximo do xadrez, mas ele esteve bem perto disso em algumas ocasiões, e, da década de 1940 a de 1970, considerava-se que ele estivesse no mesmo nível de força dos campeões mundiais desse período. Por essa razão ele foi apelidado de "O Príncipe Coroado", mas também recebeu outros epítetos que refletiam essa mesma ideia, como por exemplo "Paul, o Segundo", "O Segundo Eterno" e "O Príncipe Herdeiro do Xadrez".
20. O Homero do xadrez
Por fim, chegamos ao último nome da nossa lista. "O Homero do xadrez" foi um título atribuído ao GM russo (naturalizado francês) Savielly Tartakower (1887-1956), considerado um dos melhores cronistas e periodistas da história do xadrez, e que era dotado de grande cultura e erudição, virtudes que ele transferiu para os seus escritos. Seu apelido faz referência ao poeta Homero, da Grécia Antiga, a quem se atribui a autoria dos poemas épicos "A Ilíada" e "A Odisseia", duas das maiores obras já escritas até hoje.
E assim, amigo(a)s, chegamos ao final da nossa publicação sobre as antonomásias no xadrez... espero que tenham gostado e aprendido bastante a partir da leitura desse texto, e acima de tudo que tenham se divertido com as curiosidades a respeito desses 20 grandes nomes do xadrez mundial que desfilaram diante dos nossos olhos. Um abraço e até breve!