segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

ENTREVISTA COM A MF/WIM JULIANA TERAO - CAMPEÃ BRASILEIRA DE XADREZ DE 2019


Prezado(a)s amigo(a)s, conforme havíamos anunciado anteriormente, enfim chegou o momento de revelarmos quem é a personalidade do xadrez brasileiro que nos concedeu uma entrevista!

Nossa entrevistada tem ascedência nipônica, é jovem, bonita e uma "fera" dos tabuleiros. Aprendeu a jogar xadrez aos 5 anos de idade, ensinada por seu pai, e sentiu-se motivada a progredir inspirada pelos êxitos competitivos do seu irmão. Aos poucos foi evoluindo na Arte de Caíssa, e conquistando numerosos títulos ao longo da sua trajetória. Em 2011, aos 19 anos, venceu o Campeonato Sul-americano Feminino Sub-20, realizado na Bolívia, ocasião em que conquistou o título de WIM (Mestra Internacional de Xadrez). Representou a equipe olímpica feminina do Brasil em 6 Olimpíadas de Xadrez. É atualmente hexacampeã brasileira de xadrez feminino, tendo obtido cinco títulos de forma consecutiva: 2012, 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019. Recentemente, ganhou o título de campeã feminina do Floripa Chess Open 2020, o mais importante evento enxadrístico do Brasil. Estamos falando dela, a paulista Juliana Terao, a quem agradecemos pela gentileza e boa vontade com que aceitou responder as perguntas que lhe enviamos por e-mail. Agora, sem mais delongas, vamos à entrevista!



ENTREVISTA COM A MF/WIM JULIANA TERAO - CAMPEÃ BRASILEIRA DE XADREZ DE 2019 



Blog BM: Prezada Juliana, agradecemos sua gentileza em conceder esta entrevista ao blog Batalha de Mentes. Fale-nos um pouco a respeito do seu início no xadrez.

Juliana Terao: Comecei a jogar xadrez por conta do meu irmão Rodrigo. Meu pai o ensinou e ele começou a participar de torneios e a ganhar troféus, a família toda começou a viajar por causa dos torneios em que ele participava, e eu comecei a ficar interessada também, pois também queria ganhar troféus (risos). Então, aos 5 anos, meu pai começou a me ensinar, e aí comecei a participar de torneios junto com o meu irmão.

Blog BM: Quais foram as principais dificuldades que você enfrentou na sua trajetória rumo à maestria?

Juliana Terao: A falta de patrocínio, apoio e reconhecimento foram e continuam sendo um empecilho. Qualquer atleta de alto rendimento, seja qual for o esporte, precisa se dedicar 100% ao seu treinamento/desenvolvimento se quiser se manter na elite, e isso para mim é inviável sem um patrocínio.




Blog BM: O mundo do xadrez sempre foi dominado por homens. A que fatores você atribui a baixa participação das mulheres no meio enxadrístico?

Juliana Terao: Vejo como um fator cultural. Não só no xadrez, mas em outras áreas que são dominadas por homens, como por exemplo: bombeiro, piloto de avião, engenheiro, pedreiro, militar, informática, etc.

Blog BM: Como você analisa o atual cenário do xadrez no Brasil, em especial do xadrez feminino? O que poderia melhorar, na sua opinião?

Juliana Terao: Acredito que algumas coisas estejam melhorando... com a ajuda das mídias sociais e da tecnologia, muitos jogadores estão conseguindo divulgar o xadrez de forma positiva, como por exemplo os GMs Krikor e Evandro, que possuem canal no Youtube e constantemente fazem lives. Acho que isso atrai mais olhos para o jogo.
Em geral acho que o trabalho de base poderia receber mais atenção, os campeões de categoria absoluto e feminino poderiam receber mais apoio; por exemplo, seria muito bacana se a Confederação Brasileira pudesse disponibilizar um campo de treinamento para esses campeões de base, uma vez ao ano que fosse... mas já seria um estímulo para eles.

Quanto ao feminino, é importante ter premiação para a classe em torneios, como faz a direção do tradicional torneio Floripa Open, que disponibiliza uma premiação até a 10ª colocação das mulheres. Acho que é sempre válido ter estímulos para as minorias, não só às mulheres, mas para deficientes, idosos e crianças também. Afinal o xadrez é um esporte que abraça a diversidade.




Blog BM: Recentemente você se tornou hexacampeã brasileira de xadrez, consolidando-se como a melhor enxadrista brasileira em atividade. Como você avalia essa conquista?

Juliana Terao: Para mim, esse título foi bem especial, pois, honestamente, não esperava ganhar. Não consegui me preparar a tempo como gostaria para o torneio. Diversos empecilhos pessoais surgiram no final do ano passado, o que atrapalhou a minha rotina de treino. Eu cheguei a cogitar não jogar o torneio, mas pessoas ao meu redor me incentivaram a participar.

Blog BM: Você consegue se manter vivendo do xadrez ou exerce uma outra atividade profissional?

Juliana Terao: Sou formada em Administração e também em Gestão de Tecnologia da Informação, porém não exerço em nenhuma das áreas. Atualmente a minha maior renda vem do xadrez, com aulas, torneios, simultâneas e palestras, mas às vezes também ajudo meu pai no trabalho dele.




Blog BM: Você se sagrou a Campeã Feminina no Floripa Chess Open 2020, obtendo uma vitória sobre o GM Axel Bachmann, do Paraguai, um dos mais fortes jogadores da América do Sul. O que você pode nos dizer a respeito da sua atuação no torneio e dessa partida específica?

Juliana Terao: Sempre sou a minha maior crítica, mesmo quando dizem que fiz uma boa partida sempre encontro vários erros, e não acho que foi tão boa assim. Cometi muitos erros bobos que tento arrumar já faz um tempo, mas, em geral, acho que, tirando uma ou duas partidas, as partidas foram bem lutadas e darão bons exemplos para as minhas aulas. Em relação à minha partida com o Axel, acho que foi uma partida bem lutada, cometi um erro no final do jogo e acho que ele poderia ter aproveitado melhor, mas a falta de tempo o prejudicou.

Blog BM: Como você define seu estilo de jogo, qual o seu ponto forte e o que você acha que ainda precisa aprimorar?

Juliana Terao: Eu acho que sou uma jogadora que não arrisca muito, tento tomar decisões mais práticas. Quanto ao meu ponto forte, acredito que seja saber lidar bem com a derrota... é claro que uma derrota não é legal, mas eu tento não fazer disso o fim do mundo, entende?


 
 
Blog BM: Quais são os seus projetos para o futuro relacionados ao xadrez? O que você ainda pretende conquistar na sua carreira como enxadrista?

Juliana Terao: Como jogadora, espero conseguir o título de WGM, e também representar o Brasil em mais algumas Olímpiadas. Com o Projeto Damas em Ação, que iniciei junto a outras jogadoras em 2018, espero conseguir incentivar mais meninas a jogarem xadrez.


Blog BM: Chegamos ao fim da nossa entrevista. Que conselho ou mensagem você pode deixar para as crianças e jovens que desejam aprender mais no xadrez?

Juliana Terao: Antes de tudo, desfrute do processo de aprendizagem, e os resultados serão uma consequência. Esse foi um conselho que um bom amigo do xadrez me deu e eu demorei pra conseguir colocar em prática. Mas antes tarde do que nunca, não é mesmo? Por fim, muito foco, perseverança e trabalho duro! Bons estudos!


E assim amigo(a)s, encerramos nossa entrevista com essa grande figura do xadrez nacional, a hexacampeã brasileira Juliana Terao, que foi muito atenciosa e gentil conosco durante nosso contato. Confesso que eu teria muito mais perguntas a fazer para ela, entretanto não quis abusar da boa vontade da nossa melhor enxadrista. Mesmo assim, acredito que as perguntas selecionadas, acompanhadas das suas respectivas respostas, já são suficientes para que possamos conhecer um pouco melhor a respeito da vida e da carreira da WIM Terao. Espero que vocês tenham gostado da entrevista tanto quanto eu! Saudações enxadrísticas!                                                   

3 comentários:

  1. SHOW DE CHESS!!! Parabéns Jales, obrigado Terao.

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  2. Ótima entrevista!! Parabéns! Céu

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  3. Que bom que gostaram, amigos! Eu também gostei muito... a WIM Terao é uma figura de grande relevância no xadrez brasileiro, e sem dúvida essa entrevista enriqueceu bastante o conteúdo do blog. Obrigado pelo apoio de sempre!

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