segunda-feira, 16 de março de 2020

UMA REFLEXÃO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DE TORNEIOS DE XADREZ


        Na tarde do último sábado, eu passeava em um dos shoppings da capital paraibana, quando eis que de mim se aproxima, vindo da direção oposta, um colega enxadrista, outrora assíduo frequentador dos torneios de xadrez realizados aqui na Paraíba. Esse enxadrista, cuja identidade será mantida em sigilo, nos últimos anos deixara de participar dos torneios, e eu, ao parar para cumprimentá-lo, aproveitei para perguntar por qual motivo ele havia abandonado as competições.

         Em resposta, o colega me disse que havia se afastado porque, segundo ele, os organizadores dos torneios estavam preocupados apenas em ganhar dinheiro, cobrando altas taxas de inscrição e oferecendo premiações de valor insuficiente. Ele argumentou ainda que as premiações oferecidas nos eventos eram abocanhadas pelos jogadores fortes, enquanto ele, jogador de nível técnico menos elevado, terminava sempre de mãos vazias, o que fez com que se sentisse desmotivado a continuar competindo.

         Considerei os argumentos dele legítimos, e, ao me despedir, pus-me a refletir sobre a situação relatada... cheguei então à conclusão de que a sede de lucro dos organizadores muitas vezes acaba afastando os jogadores das competições, pois estes se sentem desestimulados a investir dinheiro para disputar torneios em que não terão nenhum retorno, enquanto o organizador enche os bolsos.

         Todos sabemos que organizar torneios dá trabalho, portanto é plenamente aceitável que o organizador obtenha uma compensação financeira pela sua iniciativa e pelos seus esforços em realizar o evento; no entanto, essa remuneração precisa ser justa, e não exorbitante. Quando o valor arrecadado com as inscrições supera bastante o valor dos prêmios, os enxadristas de certa forma se sentem lesados, e muitos preferem não jogar sob essas condições, sentimento do qual eu compartilho.

         Um típico exemplo desse tipo de torneio é aquele em que são cobradas taxas de inscrição relativamente altas, mas, em contrapartida, não é oferecido nenhum prêmio em dinheiro; nesse tipo de torneio, a premiação geralmente se resume à entrega de troféu e medalhas para os primeiros colocados. Seria bem mais interessante se os organizadores desses torneios decidissem ofertar ao menos um prêmio em dinheiro, para o vencedor do evento. A meu ver, essa medida estimularia a participação de um maior número de enxadristas na competição, e com isso todos sairiam ganhando.

         Quanto aos torneios maiores, é importante que sejam concedidas premiações por faixa etária, por faixa de rating e para as jogadoras do sexo[1] feminino, para que assim o máximo de enxadristas possam ser contemplados com prêmios, inclusive os de nível técnico inferior. É prazeroso para qualquer pessoa se destacar em uma competição esportiva, e, nesse sentido, o ganho de uma premiação em um torneio, por um enxadrista de qualquer nível, deverá servir como incentivo para que o dito enxadrista siga buscando se aprimorar cada vez mais, a fim de alcançar novos êxitos.

         Resumindo, esta é a minha opinião sobre o assunto em pauta: acredito que deveria haver nos torneios uma relação de proporcionalidade entre o valor da taxa de inscrição cobrado e o valor dos prêmios ofertados, de modo que, para que o organizador pudesse cobrar uma taxa alta, deveria ofertar uma premiação alta, e vice-versa. Por outro lado, compreendo que é difícil prever o número de participantes que irão comparecer a um torneio, e, dessa maneira, o organizador que anunciar uma premiação mais alta poderá ter prejuízo, caso o número de inscritos em seu evento fique abaixo do esperado.

Parece-me que a melhor alternativa para balancear essa equação, nos torneios que não contam com patrocínio (que são a maioria), consiste em atrelar o valor do prêmio a ser distribuído ao valor arrecadado com as inscrições, de maneira que, quanto mais inscritos houvesse no torneio, maior seria o valor pago a título de premiação. Penso também que a quantia destinada à premiação nunca deveria ser inferior a 30% do valor arrecadado com as inscrições. Por exemplo, se um torneio gera R$ 1.000,00 (mil reais) de receita com o recebimento das inscrições, o valor mínimo a ser destinado ao pagamento da premiação deveria ser de R$ 300,00. Os outros 70% do valor arrecadado seriam utilizados para custear as despesas do evento (água, café, lanche, aluguel de mesas, confecção de cartazes, serviço de arbitragem, etc.) e o ganho do organizador. Assim, o organizador receberia o justo quinhão pelo seu trabalho e os jogadores seriam premiados com algo mais do que simples medalhas, de valor meramente simbólico.

Ao agirem assim, abrindo mão dos ganhos excessivos dos chamados “torneios caça-níquel”, os organizadores certamente conquistariam maior credibilidade junto ao público e atrairiam um maior número de competidores aos eventos, transformando-os em bonitos espetáculos desse maravilhoso esporte que é o xadrez. Reflitam sobre isso, amigos!


[1] Sexo feminino: O autor do artigo utiliza a palavra “sexo” em lugar do termo “gênero”, amplamente empregado na atualidade, por entender que o uso do referido termo corrobora a falaciosa e anti-científica Teoria Queer ou Teoria de Gênero, segundo a qual a identidade sexual ou de “gênero” dos indivíduos é resultado de uma construção social, e que, portanto, não existem papéis sexuais biologicamente definidos na espécie humana. Obviamente, essa ideia consiste em uma verdadeira afronta à Biologia e já foi devidamente refutada por inúmeros estudiosos de diversas áreas da ciência.



Torneio de Esperança, o torneio com maior premiação do interior paraibano: R$ 5.000,00!

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