Esse tipo de pergunta sempre causa polêmica, mas sinceramente nesse caso estou convencido de que há uma resposta irrefutável. Alguns vão dizer que é um exercício fútil, mas se isso estimular o estudo dos clássicos e mais conhecimento enxadrístico, então estou feliz.
Para você, qual o maior gênio da história do xadrez?
Pode contar todo mundo, em todas as épocas. Dizem, por exemplo, que Da Vinci era um bom enxadrista. Dizem tanta coisa sobre ele, será que isso é verdade? Ou você pode ter pensado em Morphy - o furacão que assolou a Europa e parou de jogar xadrez tão cedo. Ou Capablanca, tido como um dos mais talentosos. Fischer, Kasparov, Carlsen. Quem você quiser.
O maior gênio da história do xadrez não é nenhum deles. É François-André Danican Philidor, compositor e enxadrista que viveu no século 18.
O que Philidor fez é algo incomparável. Além de ter sido um dos maiores compositores franceses do seu tempo, ele não tinha rivais no xadrez. Só isso já o colocaria entre os grandes. Mas não é isso que impressiona mais.
Ele escreveu um livro, “Analyse du jeu des Échecs”, que por pelo menos 100 anos foi o livro de xadrez mais importante no mundo. Foi estudado pelo Morphy, dentre tantos outros.
Ele criou uma Defesa que até hoje é jogada e que leva seu nome. Recentemente o Dubov ganhou do Carlsen com a Defesa Philidor (veja aqui).
Ele também descobriu posições importantes de finais de torres, principalmente a técnica defensiva que leva seu nome (veja aqui).
Tudo isso é incrível, mas o que mais impressiona são as análises dele no final de Torre e Bispo x Torre, o final teórico mais difícil do xadrez. Na semana passada revisamos, para o curso de finais, a técnica para ganhar esse final. Essa técnica é absurdamente difícil, envolve lances de espera, xeques intermediários e uma manobra de bispo para tirar as casas da torre que defende. É difícil de entender até analisando com o computador.
Philidor analisou tudo isso no século 18. Descobriu quais as posições mais importantes para entender o final, analisou tudo sem nenhum erro - suas análises são usadas até hoje como referência. Sem super computadores, sem ficar teclando espaço para a engine sugerir um lance. Tudo isso no tempo livre do seu trabalho musical.
Eu afirmo sem nenhuma dúvida: Philidor foi o maior gênio da história do xadrez.
*Texto de autoria do GM Rafael Leitão.
Philidor (1726-1795) |
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