Amigo(a)s, após uma breve pausa provocada por uma conjuntivite, estou retomando as publicações do blog, dando sequência a nossa série de postagens sobre os campeões mundiais de xadrez. Hoje iremos discorrer a respeito da vida e da carreira do quinto campeão do mundo, o holandês Max Euwe. Boa leitura!
MAX EUWE
Machgielis (Max) Euwe nasceu no dia 20 de maio de 1901, na cidade holandesa de Watergrafsmeer, próxima de Amsterdã. Aprendeu xadrez bem cedo, aos quatro anos, mas somente aos 20 começou a tomar parte em competições importantes. Em 1921, empatou um match contra o proeminente enxadrista húngaro Géza Maróczy, e, em 1926, perdeu por um ponto um encontro de treinamento com Alekhine, que se tornaria campeão do mundo poucos meses mais tarde. Adquiriu experiência em matches, medindo-se com os melhores jogadores. Foi 13 vezes campeão da Holanda. Ganhou o famoso torneio de Hastings duas vezes, em 1930, à frente do ex-campeão mundial Capablanca, e em 1934, à frente de Capablanca e do futuro campeão mundial Botvinnik. Mas o acontecimento mais marcante de sua carreira ocorreu no ano de 1935: seu encontro pelo campeonato mundial contra o formidável Alekhine.
O jovem Euwe |
Apesar de exercer profissionalmente o ofício de professor de Matemática, Euwe teve a ousadia de lançar um desafio a Alekhine para que disputassem o título mundial, desafio que foi prontamente aceito pelo campeão. O governo holandês patrocinou o campeonato, cobrindo todos os gastos. O match celebrou-se no período de 03 de outubro a 12 de dezembro de 1935, em Amsterdã e outras cidades holandesas. Como assinala Kasparov, no 2º volume de Meus Grandes Predecessores, "Alekhine chegou à Holanda como claro favorito. 'Hoje em dia não vejo ninguém que possa vencer-me', declarou em uma entrevista antes de começar o match. Por sua vez, Euwe declarava que se esforçaria para oferecer a maior resistência possível". No entanto, o destino mostrou que o arrogante campeão iria se arrepender de ter feito tal declaração. Ao contrário de Euwe, que esteve se preparando durante 1 ano e meio para este embate, Alekhine, absolutamente convencido de sua superioridade, não realizou qualquer preparação, e, por conseguinte, não conseguiu demonstrar o seu melhor xadrez, perdendo o match, para surpresa geral. O resultado do confronto foi muito apertado: após 30 partidas jogadas, Euwe venceu por apenas um ponto de diferença (+9 -8 =13). Com esse resultado, o holandês foi coroado o quinto campeão mundial, e foi efusivamente aclamado pelo povo do seu país, convertendo-se em herói nacional. Muitos especulam que Alekhine só perdeu para Euwe porque estava em má forma e com problemas de saúde (provavelmente decorrentes do alcoolismo), porém, a meu ver, a vitória do holandês no match de 1935 foi plenamente merecida. Kasparov corrobora essa opinião, e cita, na obra acima mencionada, o seguinte comentário do mestre Grabusov: "Por muito que se tenha falado da má forma de Alekhine em 1935, é difícil dizer qual outro jogador poderia derrotá-lo naquela ocasião. Somente um jogador com uma preparação de aberturas como a de Euwe e, desde logo, não inferior nas complicações táticas, teria sido capaz de derrotá-lo".
Alekhine vs. Euwe - partida válida pelo Campeonato Mundial de 1935 |
Ao definir as regras da disputa do título mundial, Alekhine sensatamente havia estabelecido que, em caso de vitória de Euwe, seria jogado um match-revanche entre ambos. O novo campeão honrou esse compromisso, e a revanche foi realizada entre outubro e dezembro de 1937, novamente em território holandês. Desta vez Alekhine levou muito a sério sua preparação, escolhendo cuidadosamente as aberturas que iria usar no confronto, analisando os erros cometidos por ele no primeiro match e estudando com profundidade os pontos fortes e débeis do seu adversário. O árduo trabalho de preparação surtiu efeito, e, após 25 partidas, Alekhine venceu o rematch pelo placar de 15,5 x 9,5 (+10 -4 =11), reconquistando a coroa. Quando Alekhine morreu de posse do título mundial, em 1946, os holandeses esperavam que as autoridades enxadrísticas outorgassem a Euwe o título vacante, já que ele era o único dos antigos campeões do mundo ainda vivo. Entretanto, como Euwe não conseguiu demonstrar em torneios uma superioridade sobre os seus principais rivais, essa ideia foi descartada. Em 1948, a FIDE, agora oficialmente incumbida de organizar as disputas pelo campeonato mundial, promoveu um match-torneio com a participação dos cinco mais fortes jogadores do mundo na época (Botvinnik, Smyslov, Keres, Reshevsky e Euwe), para determinar quem seria o sucessor de Alekhine no trono do xadrez. Essa competição foi vencida por Botvinnik, que marcou 14 pontos em 20 possíveis. Infelizmente, Euwe teve uma péssima atuação, finalizando o torneio em último lugar, com apenas 4,0 pontos e uma única vitória em 20 jogos disputados, resultado que representou o maior revés de sua trajetória enxadrística.
O último grande torneio de que Euwe participou foi o Torneio de Candidatos de Zurique, em 1953. Depois de Zurique, ele jogou pouquíssimas vezes, e quase exclusivamente em competições por equipes. Depois de abandonar o xadrez competitivo, Euwe começou uma nova etapa da sua carreira, agora como dirigente, presidindo a FIDE no período de 1970 a 1978. No tocante ao seu estilo de jogo, Euwe pode ser considerado um jogador completo. Era amante do jogo sólido, embora também dominasse o jogo tático. Detentor de grande preparação teórica, o xadrez para Euwe foi um objeto de investigação científica. Ele estudou profundamente a teoria das aberturas, sistematizando seus descobrimentos e registrando-os em monografias sobre essa fase da partida, que são muito apreciadas. Foi o mais prolífico escritor dentre os campeões mundiais, legando à literatura enxadrística várias obras importantes. Além de bom jogador, Euwe distinguia-se também pelo seu comportamento cavalheiresco. Ele foi o único amador da história a se tornar campeão mundial, visto que nunca se dedicou profissionalmente ao xadrez. Faleceu em Amsterdã, no dia 26 de novembro de 1981, aos 80 anos de idade.
Para ilustrar o potencial criativo e a habilidade tática do quinto campeão mundial, vamos reproduzir o seu triunfo sobre Miguel Najdorf, ocorrido no Torneio de Candidatos de Zurique (1953). Trata-se de uma partida bastante complicada, que marca um dos últimos êxitos competitivos de Euwe antes de encerrar sua vitoriosa carreira.
Uma bela trajetória, Max Euwe não é meu ídolo no xadrez, mas, certamente está no panteão junto com Caíssa e outros grandes nomes.
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