sábado, 27 de junho de 2020

GALERIA DOS CAMPEÕES MUNDIAIS DE XADREZ - SMYSLOV


Dando prosseguimento à nossa série de postagens sobre os campeões mundiais de xadrez, hoje iremos apresentar aos leitores um pouco sobre a vida e a trajetória enxadrística do sétimo campeão do mundo, o russo Vasily Smyslov.


VASILY SMYSLOV


Vasily Vasiliyevich Smyslov nasceu em Moscou, capital da Rússia, em 24 de março de 1921. Aprendeu os rudimentos do jogo aos seis anos de idade. Teve por professor o seu pai, também de nome Vasily, de quem herdou a paixão pelo xadrez. Vasily pai era considerado um bom jogador, tanto é que conseguiu vencer Alekhine em uma partida disputada em 1912, no Clube de Xadrez de São Petersburgo. Vasily filho, portanto, cresceu num ambiente propício ao desenvolvimento do seu talento, já que seu pai possuía um acervo com dezenas de livros sobre xadrez. Em 1942, o jovem Smyslov, que já tinha obtido o título de Mestre, ganhou o Campeonato de Moscou, e no ano seguinte, em 1943, se converteu em Grande Mestre. Finalizou em 2º lugar no Campeonato da União Soviética de 1944, e participou do seu primeiro torneio internacional em 1946, em Gronigen (Holanda), no qual classificou-se em 3º lugar, atrás do ex-campeão mundial Euwe e do futuro campeão mundial Botvinnik. Esses bons resultados lhe permitiram participar, dois anos mais tarde, do Match-Torneio válido pelo Campeonato Mundial de 1948, em que terminou em 2º lugar, depois de Botvinnik, que foi declarado campeão. Smyslov continuou se fortalecendo e aprimorando-se tecnicamente com o passar dos anos, até que em 1953 ganhou o famoso Torneio de Candidatos de Zurique. A partir daí, ele começou a se preparar para enfrentar Botvinnik em um encontro pela coroa do xadrez, que foi celebrado em 1954.

 
O jovem Smyslov


Na opinião de todos, durante o período de 1953 a 1958 Smyslov era, no mínimo, tão forte quanto o campeão mundial Botvinnik. Em resultados, destreza e classe ele superava a todos os demais Grandes Mestres da época. Dessa forma, esperava-se um duelo intenso entre os dois melhores enxadristas do mundo, e essa expectativa de fato se concretizou. Após 24 partidas de muita luta, 14 das quais tiveram definição, um número alto para matches desse nível, o confronto terminou empatado em 12 x 12 (+7 -7 =10). Botvinnik teve grande dificuldade em resistir ao ímpeto do jovem aspirante, que jogou de igual para igual contra seu formidável oponente. Em 1956, Smyslov venceu o Torneio de Candidatos de Amsterdã, e mais uma vez se classificou para disputar o título mundial frente a Botvinnik. A essa altura, pelos seus resultados anteriores em torneios, ele já era considerado o melhor jogador do mundo, e consequentemente o favorito para sair-se vitorioso no match de 1957, que foi disputado entre os meses de março e abril daquele ano. Nesta segunda tentativa, Smyslov conseguiu impor sua força sobre Botvinnik, derrotando-o por 12,5 x 9,5 (+6 -3 =13). O mundo do xadrez tinha um novo campeão!


Smyslov conquistou o título mundial em 1957, ao derrotar Botvinnik


Apesar do seu grande preparo e nível de força, Smyslov permaneceu em posse do título mundial por apenas um ano. As regras estabeleciam que deveria ser jogado um match-revanche, um ano depois do encontro anterior, e o acordo foi cumprido. Pela primeira vez na história do Campeonato Mundial, os mesmos rivais batalhavam pela coroa em três matches consecutivos! Assim, em 1958, Smyslov e Botvinnik se encontraram mais uma vez, cara a cara, lutando por dois objetivos distintos: Smyslov para manter o título mundial, e Botvinnik para reconquistá-lo. O ex-campeão havia se preparado intensamente para esse encontro, estudando cuidadosamente os pontos fortes e fracos do seu adversário, como era seu costume. O começo da disputa causou uma surpresa geral: Botvinnik somou três vitórias consecutivas! Na sequência, Smyslov procurou reagir, e as vitórias se produziram de ambas as partes. No entanto, o campeão não pôde se recuperar do começo infeliz e reverter sua desvantagem, sendo superado por Botvinnik, que venceu o terceiro match entre ambos pelo placar de 12,5 X 10,5 (+7 -5 =11). A perda do título mundial não abateu Smyslov, que seguiu sendo um dos principais jogadores do mundo. Em torneios internacionais, era geralmente incluído na equipe soviética, onde teve a oportunidade de vencer numerosas competições por equipes. Assim como Lasker, Reshevsky e Kortchnoi, tornou-se um dos mais célebres exemplos de longevidade enxadrística, competindo em alto nível mesmo depois dos 60 anos de idade. Entre 1948 e 1983, foi oito vezes candidato ao título mundial, e em 1991, aos 70 anos, ganhou o primeiro Campeonato Mundial de Xadrez Sênior.




Smyslov adotou um estilo de jogo posicional, lógico e metódico, com destaque para sua técnica refinada e sua grande habilidade na condução dos finais. Como todo jogador de primeira categoria, ele era também muito bom no jogo tático, organizando ataques ao adversário com extrema precisão. Foi adepto do estilo clássico, buscando, segundo ele próprio declarou, "alcançar a harmonia e a verdade no xadrez".  Escreveu alguns livros de xadrez, dentre os quais o mais importante é My best games of chess 1935-1957. Contribuiu com novas ideias para a evolução da teoria de aberturas, em especial na Abertura Ruy Lopez e nas Defesas Francesa, Grünfeld e Ninzoíndia. Apesar de ser um exímio estrategista e finalista, Smyslov nunca foi considerado um dos melhores campeões do mundo. Compartilhava sua carreira de enxadrista com sua paixão pela música, atuando como cantor, e chegando a dar concertos em torneios de xadrez, às vezes acompanhado pelo Grande Mestre soviético Taimanov, que era pianista. Simpático e de modos agradáveis, ganhou o afeto dos seus companheiros enxadristas. Vasily Smyslov faleceu em Moscou, em 27 de março de 2010.

Como exemplo da profunda força criativa de Smyslov, iremos exibir uma bela partida disputada contra o GM húngaro Zoltan Ribli na Semifinal do Torneio de Candidatos de 1983, em que o ex-campeão mundial de 62 anos utilizou sua maestria tática para conquistar uma brilhante vitória. 



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