terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A TEORIA DA "PETRIFICAÇÃO" DOS CAMPEÕES MUNDIAIS DE XADREZ


Garry Kasparov, na introdução do 2º volume da sua monumental obra Meus Grandes Predecessores, apresenta uma interessante teoria para explicar de que maneira os campeões mundiais deixam de evoluir e acabam sendo superados por enxadristas mais jovens; podemos chamá-la de a Teoria da "Petrificação dos Campeões Mundiais"... vejamos o que escreve Kasparov a esse respeito:

"No xadrez, os campeões foram se alternando por diversas razões, mas a mais importante delas frequentemente era puramente evolutiva: o contínuo e rápido desenvolvimento do jogo em si. Como expressou com perspicácia meu segundo Yuri Dokhoian, com o passar do tempo cada campeão começa a 'petrificar-se', ou seja, a ficar inflexível, tornando-se uma espécie de monumento vivo. Isto é, gradualmente deixa de trazer novas ideias ao xadrez e de assimilar as tendências dominantes em seu desenvolvimento. E cedo ou tarde ele paga o preço, já que, ao contrário, o jovem aspirante evolui, dando um passo à frente.
Esse padrão se fez presente em muitos encontros pelo campeonato mundial, começando lá com o duelo não-oficial Morphy-Anderssen (1858), no qual indubitavelmente o gênio norte-americano jogou o xadrez do futuro. Mais tarde, Steinitz levou a cabo uma autêntica revolução, criando uma teoria do jogo posicional e colocando as aberturas em linhas mais ou menos sérias e científicas. No entanto, em seus encontros com Chigorin foi-se 'petrificando', não devido à sua idade avançada, mas sim à sua tremenda obstinação, que o levava a manter a defesa de seus princípios em posições mais que duvidosas. O apego a seus próprios dogmas o fez perder muitos pontos, e se manteve o trono foi somente graças a sua enorme força tática. Se jogasse de maneira mais flexível, a superioridade de Steinitz sobre seus contemporâneos teria sido inquestionável. Mas então surgiu um discípulo de grande talento: o ultraflexível Lasker, com seus formidáveis recursos, e o inflexível Steinitz não pôde competir com ele".

Depois disso Kasparov prossegue desenvolvendo o seu raciocínio, mostrando como cada campeão se deixou "petrificar" e consequentemente foi superado pelo campeão seguinte, até chegar, cronologicamente, ao ano 2000, declarando que ele próprio havia se "petrificado" antes do seu match contra Kramnik, justificando assim sua derrota no referido encontro pelo Campeonato Mundial. Essa reflexão do "Ogro de Baku" é interessante, entre outros motivos, porque nos leva a perceber o xadrez como uma ciência em contínua evolução, em que os campeões do futuro, para alcançarem o título máximo do xadrez mundial, precisam assimilar o legado dos campeões anteriores e aprimorá-lo, tendência que tem levado ao surgimento de campeões mundiais cada vez mais fortes, uma hipótese que parece ser confirmada pela superioridade de Magnus Carlsen em relação aos seus antecessores. E você, amigo(a) leitor(a), o que acha dessa discussão? Fique à vontade para comentar esta postagem e expor sua opinião!


Estátua do ex-Campeão Mundial Petrosian, em Yerevan, capital da Armênia

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