quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

OS REIS SEM COROA - VIKTOR KORTCHNOI


Dando continuidade a nossa série "Os reis sem coroa", dedicada aos enxadristas mais fortes da história que não chegaram a se tornar campeões mundiais, na publicação de hoje falaremos um pouco a respeito da vida e da carreira do Grande Mestre russo Viktor Kortchnoi, um dos mais extraordinários jogadores de todos os tempos.


VIKTOR KORTCHNOI 


Viktor Lvovitch Kortchnoi nasceu na cidade de Leningrado, na antiga União Soviética, no dia 23 de maio de 1931. Ele venceu o fortíssimo campeonato soviético de xadrez em quatro oportunidades, em 1960, 1962, 1964 e 1970. Kortchnoi foi candidato ao título mundial duas vezes, quando disputou a final do Campeonato Mundial contra Anatoli Karpov, em 1978 e 1981. Desde os anos 1960 até os anos 2000, seu nome figurou constantemente no nível mais alto do xadrez mundial, recordando a longevidade dos Campeões do Mundo Steinitz, Lasker e Smyslov.


O jovem Kortchnoi


Kortchnoi é sem dúvida uma das figuras mais emblemáticas da época da Guerra Fria. No início da sua carreira, ele era muito bem visto pelas autoridades soviéticas. A conquista do título de Campeão Soviético na categoria júnior fez com que ele se tornasse bastante popular. Contudo, em 1976, Kortchnoi decidiu abandonar a União Soviética, devido à perseguição que vinha sofrendo por parte das autoridades do país, e radicou-se na Suíça, cuja bandeira passou a defender. Esse fato marcou significativamente sua trajetória enxadrística, pois a deserção fez dele um inimigo declarado do governo da URSS, que passou a tentar boicotá-lo de todas as maneiras. Em um mundo do xadrez dominado pelos Grandes Mestres soviéticos, Kortchnoi passou a ser visto como um traidor pelos seus antigos compatriotas. Essa difícil situação serviu para aguçar ainda mais a força de vontade e a combatividade de Kortchnoi. Sua enorme motivação era proporcional à tensão que o rodeava. Na sua luta para chegar ao título mundial, em 1978 ele derrotou Spassky na final do Torneio de Candidatos, em um encontro tenso no qual os dois jogadores se negaram a sentar juntos diante do tabuleiro.

Nesse mesmo ano de 1978, Kortchnoi disputou o encontro pelo título máximo contra Karpov, na cidade de Baguio (Filipinas), e por muito pouco não arrebatou a coroa das mãos de Karpov, mesmo tendo que enfrentar várias condições adversas, dentre elas a separação de sua esposa e do seu filho, que foram mantidos como reféns na União Soviética, impedidos de juntar-se a ele. Depois de estar perdendo por 5x2 no placar do match (sem contar os empates), cujo vencedor seria o primeiro que vencesse 6 partidas, Kortchnoi conseguiu empatar o duelo em 5x5, para desespero dos soviéticos. Finalmente, na 32ª partida, Karpov jogou melhor do que seu ferrenho adversário e manteve o título. Na segunda disputa entre esse dois titãs do tabuleiro, ocorrida em Merano (Itália), em 1981, Kortchnoi não conseguiu jogar suficientemente bem e foi completamente dominado por Karpov, que venceu o segundo match sem dificuldades.


Kortchnoi enfrentando Karpov pelo título mundial - Baguio (1978)


De 1976 a 1984, Kortchnoi foi afastado de todos os torneios jogados pelos representantes da União Soviética, que só estavam autorizados a jogar contra ele para defender o título mundial. Nesse período, ele adquiriu a cidadania suíça, ganhou o Campeonato da Suíça em 1982, 1984 e 1985 e disputou várias competições com a equipe do seu novo país. Acerca do seu estilo de jogo, a estratégia preferida de Kortchnoi consistia em ficar na defensiva e forçar seus oponentes a correr riscos e fazer sacrifícios, deixando-lhes crer que possuíam a iniciativa. Na primeira chance que surgia, Korchnoi lançava um contra-ataque sobre a posição inimiga e vencia graças à vantagem material que havia conquistado. Ele era um grande defensor, que amava a luta e sempre se batia como um leão sobre o tabuleiro. Com as negras, suas armas favoritas eram a Defesa Grunfeld, a Espanhola aberta e a Defesa Francesa, todas linhas de jogo propícias ao contra-ataque, bem de acordo com seu estilo. Com as brancas, jogava quase sempre 1. c4 ou 1. d4. No meio-jogo, sua força residia na habilidade de se sair bem das complicações.


Kortchnoi (73 anos) encarando Magnus Carlsen (14 anos), em 2004.


Kortchnoi seguiu jogando até bem pouco tempo antes de sua morte, ocorrida no dia 06 de junho de 2016. Em 2012, ele sofreu um derrame, fato que não o impediu de continuar competindo, mesmo em uma cadeira de rodas. Sua vitalidade e seu amor ao xadrez eram simplesmente impressionantes! Kortchnoi será sempre lembrado como um grande lutador e um jogador que enfrentou e superou várias adversidades para alcançar e se manter no topo do xadrez mundial. Na opinião de Kasparov, "Viktor, o terrível", como Kortchnoi foi apelidado, foi o maior jogador sem um título mundial. E quem somos nós, pobres mortais, para discordar dele?
Finalizamos nossa matéria com uma complicada partida jogada em 1962, em que Kortchnoi derrota o "Mago de Riga", Mikhail Tal, o qual sempre teve muita dificuldade ao enfrentar Viktor Kortchnoi, tendo perdido a maioria dos confrontos que disputou contra ele. 




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