Dando continuidade a nossa série "Os reis sem coroa", dedicada aos
enxadristas mais fortes da história que não chegaram a se tornar
campeões mundiais, hoje falaremos um pouco a respeito da vida e da
carreira do brilhante Grande Mestre estoniano Paul Keres. Vamos lá!
PAUL KERES
Paul Petrovich Keres nasceu na cidade de Narva (Estônia), em 07 de janeiro de 1916. Talvez ele seja o mais forte jogador da história que não chegou a ser Campeão Mundial, tanto é que recebeu o título de "Príncipe coroado". Seu estilo se caracterizava, no princípio da sua carreira, por um jogo agressivo, acompanhado de ousadas combinações, para depois ir se tornando, gradualmente, mais repousado e posicional.
O jovem Keres |
O maior êxito competitivo da carreira de Keres foi a sua vitória no lendário torneio de AVRO, realizado em 1938, na Holanda, e que contou com a presença dos 8 mais fortes enxadristas do mundo na época: além de Keres, participaram do torneio o então Campeão Mundial Alekhine, os ex-Campeões Mundiais Euwe e Capablanca, o futuro Campeão Mundial Botvinnik, e mais Fine, Reshevsky e Flohr. Diante desses formidáveis adversários, a vitória do jovem estoniano de apenas 22 anos surpreendeu o mundo do xadrez, e ele passou a ser visto como uma nova estrela do xadrez internacional. Além de AVRO, Keres venceu outros fortes torneios do final da década de 1930, mas o advento da Segunda Guerra Mundial acabou com suas esperanças de desafiar Alekhine pela disputa da coroa. Após a Guerra, ele foi candidato ao Campeonato Mundial por sete vezes, mas nunca conseguiu chegar às finais, com exceção da sua participação no match-torneio de 1948, quando finalizou a competição em 3º lugar, empatado com Reshevsky. Infelizmente, a vida pessoal de Keres foi marcada por infortúnios que atrapalharam sua trajetória enxadrística. Eis o que escreve Kasparov no 2º volume de Meus Grandes Predecessores:
"O fato de que Keres não tenha chegado a jogar um match pelo campeonato do mundo foi uma lástima para o xadrez, uma espécie de brincadeira perversa do destino. Que outro jogador esteve, durante tantos anos - um quarto de século a partir do Torneio AVRO - tão perto de conquistar a coroa? Porém, sempre lhe faltou um pouco de sorte. Como escreveu a imprensa, 'a tragédia de Keres nos ciclos de candidatos foi que, cada vez, quando jogava muito bem, havia outro participante que jogava ainda melhor ou, simplesmente, que era mais sortudo'.
Parece que algo em seu caráter impediu Keres de se tornar campeão do mundo. Era uma pessoa inteligente, de modos suaves, um autêntico cavalheiro. Porém, nos momentos decisivos, às vezes perdia os nervos. Tanto o pesadelo da guerra, como o terror do pós-guerra, temendo ser preso, seguramente deixaram sua marca nele. Jogar depois do que havia sofrido devia ser difícil. Creio que, se a Estônia não tivesse feito parte da União Soviética, Keres teria sido um considerável perigo para os jogadores soviéticos. Talvez (tendo em conta a experiência de Kortchnoi) tivesse devido desertar ao Ocidente em 1944. Em tal caso, teria se tornado o desafiante número 1 e o match-torneio de 1948 poderia haver tido um desenlace diferente".
Monumento em homenagem a Keres localizado em sua cidade natal |
Keres também se notabilizou como um excelente teórico, e juntamente com Euwe é considerado o melhor autor de textos relacionados com a teoria das aberturas. Ele continuou disputando competições até 1975. Faleceu no dia 05 de junho daquele ano, vítima de um ataque cardíaco, e sua morte repentina representou uma inestimável perda para o mundo do xadrez. E agora, como temos feito com todos os outros homenageados da série "Os reis sem coroa", vamos finalizar nossa matéria com o vídeo de uma magnífica partida jogada em 1940 entre Euwe e Keres, em que Keres força o abandono de Euwe com a ajuda de um arriscado sacrifício de dama!
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