domingo, 31 de maio de 2020

GALERIA DOS CAMPEÕES MUNDIAIS DE XADREZ - CAPABLANCA


Dando sequência a nossa série de postagens sobre os campeões mundiais de xadrez, hoje iremos falar a respeito do terceiro campeão do mundo, José Raul Capablanca, um jogador pelo qual eu tenho uma grande admiração, em virtude do seu incomparável talento natural. 


JOSÉ RAUL CAPABLANCA 


José Raul Capablanca Y Graupera nasceu em Havana (Cuba), no dia 19 de novembro de 1888. É considerado o enxadrista dotado de maior talento natural da história do xadrez, porque, apesar de não se dedicar com profundidade ao trabalho analítico e à preparação teórica, ainda assim conseguiu demonstrar superioridade sobre a maioria dos seus adversários. Tal superioridade se fez refletir em seus resultados competitivos: sabe-se que ele perdeu pouquíssimas partidas ao longo de sua carreira (ver postagem sobre esse tema clicando aqui), mantendo-se invicto durante 8 anos, no período de 1916 a 1924. Uma lenda muito difundida na literatura enxadrística afirma que Capablanca teria aprendido xadrez aos 4 anos, apenas observando o seu pai jogar com amigos, mas o gênio cubano posteriormente desmentiu essa narrativa. O que se sabe de fato é que ele manifestou desde cedo uma aptidão fora do comum para o jogo, fazendo rápidos progressos e transformando-se em um autêntico prodígio. Seu primeiro grande feito no xadrez foi obtido em 1901, aos 12 anos, quando ele se tornou campeão de Cuba, depois de derrotar o então campeão cubano Juan Corzo em um match.


Foto de Capablanca, ainda muito jovem, jogando com seu pai


No final da adolescência, Capablanca seguiu para estudar nos Estados Unidos, na Universidade de Colúmbia. Começou então a jogar com os melhores jogadores estadunidenses, até se defrontar com o campeão nacional, Frank Marshall, vencendo-o com grande facilidade (+8 -1 =14), para espanto de todos. A boa atuação contra Marshall fez com que fosse admitido no torneio de San Sebastian (Espanha), em 1911, competição que marcou a estreia de Capablanca na arena internacional. Em San Sebastian estava presente a elite enxadrística da época; não obstante, para surpresa geral, o desconhecido jogador cubano de 22 anos terminou em 1º lugar, recebendo o prêmio de beleza pela sua partida contra Ossip Bernstein, o qual, por ironia do destino, havia se mostrado contrário à participação de Capablanca no torneio, alegando que ele não estaria à altura dos demais competidores. Depois desse triunfo em sua primeira competição internacional, a comunidade enxadrística percebeu que havia surgido uma nova estrela no firmamento do xadrez. Capablanca seguiu colecionando vários êxitos nos anos seguintes, até que chegou o momento de desafiar Emanuel Lasker pela disputa do título mundial.  


O jovem Capablanca


Como sabemos pela leitura da publicação dedicada ao segundo campeão mundial, o último enfrentamento de Lasker pelo campeonato mundial antes de perder o título aconteceu em 1910, quando ele esmagou Janovsky por 9,5 x 1,5 (+8 -0 =3). Depois desse match, ocorreu uma prolongada pausa de 11 anos sem luta pela coroa do xadrez, a qual foi motivada, em grande parte, pela deflagração da I Guerra Mundial, que se estendeu de 1914 a 1918. Finalmente, entre março e abril de 1921, celebrou-se o tão esperado encontro entre o campeão Lasker, de 52 anos, e o desafiante Capablanca, em Havana, cidade natal do cubano. O match começou equilibrado, com quatro empates, mas então Capablanca venceu a 5ª partida, graças a um erro de Lasker em uma posição empatada. O desafiante venceu também a 10ª, a 11ª e a 14ª partidas, com as demais terminando em empate. É dito que Lasker teve dificuldades para se adaptar ao clima tropical de Cuba, inclusive teria se sentido mal durante a 14ª partida. Depois de se consultar com um médico, este o aconselhou a não prosseguir com o match, que havia sido programado para ter 24 partidas. Lasker então propôs ao seu adversário que os dez jogos restantes fossem disputados em um local de clima mais ameno, porém, diante da recusa de Capablanca, Lasker decidiu abandonar o confronto, cedendo a coroa ao cubano, que, a essas alturas, já era indiscutivelmente mais forte do que seu venerável rival, merecendo, pois, a conquista do título mundial. Depois de 27 anos, o longo reinado de Lasker chegava ao fim!


Match Lasker vs. Capablanca - 1921


No período em que permaneceu como campeão do mundo (1921 a 1927), Capablanca continuou exibindo sua força ao vencer torneios internacionais importantes, como os torneios de Londres (1922) e Nova Iorque (1924 e 1927). Com tantos sucessos na carreira, o excesso de confiança terminou por prejudicá-lo, pois, ao colocar o título mundial em jogo contra Alexander Alekhine, Capablanca foi derrotado, contrariando a maioria dos prognósticos, que o apontavam como favorito para vencer a disputa. Vale lembrar que, antes do encontro pelo campeonato mundial, Capablanca nunca havia perdido para Alekhine, e muito provavelmente esse fato o levou a negligenciar sua preparação contra aquele formidável oponente, o qual, além da genialidade, possuía também uma enorme capacidade de trabalho. Depois desse revés, Capablanca buscou durante anos jogar um match-revanche contra Alekhine, a fim de tentar reaver o título perdido, entretanto o novo campeão sempre se esquivou do desafio, preferindo colocar o título em jogo em duas ocasiões (1929 e 1934) contra um adversário mais fraco, Efim Bogoljubow, fato que provocou a indignação de Capablanca. Além de evitar jogar um novo match contra o cubano, o campeão mundial buscava evitar encontrá-lo nos torneios, impondo entraves à participação de Capablanca junto aos organizadores, algo que, na minha opinião, constitui uma das várias manchas na reputação do controverso Alekhine. Por causa desses incidentes, esses dois grandes gênios do xadrez terminaram seus dias como inimigos irreconciliáveis.

  


Em relação ao seu estilo de jogo, o terceiro campeão mundial aliava uma assombrosa rapidez de cálculo, um profundo entendimento posicional e uma técnica quase perfeita, combinação que rendeu a ele o apelido de "A máquina de jogar xadrez". Embora possuísse grande capacidade tática, ele costumava evitar as complicações. Seu jogo era simples, lógico e intuitivo, fazendo ressaltar a coordenação harmoniosa entre as peças. Nos finais de partida, sua técnica era quase sempre impecável. Diplomata de profissão, escreveu três livros importantes para a literatura enxadrística mundial: A primer of chess, My chess career e Fundamentos del ajedrez. Seu último êxito competitivo foi a vitória no torneio de Moscou de 1936, à frente de Botvinnik, Flohr e Lasker. Capablanca faleceu em Nova Iorque, no dia 08 de março de 1942, vítima de hemorragia cerebral, e será para sempre lembrado como um dos maiores gênios da história do xadrez. Como uma pequena mostra do seu brilhantismo, vamos reproduzir uma partida jogada em 1933 contra o enxadrista estadunidense Herman Steiner, em que Capablanca, com a precisão de uma engine, sacrifica as duas torres para desfechar um belo xeque-mate ao rei adversário.



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