domingo, 31 de maio de 2020

O REI DO XADREZ RELÂMPAGO: QUEM FOI ELE?


O xadrez relâmpago, também conhecido como blitz ou ping, é uma modalidade de xadrez que tem se tornado cada vez mais popular, por ser bastante divertida, e que exige do seu praticante uma boa visão de jogo e uma velocidade acelerada de raciocínio e de cálculo. Alguns enxadristas ficaram conhecidos como exímios jogadores de blitz: Petrosian, Kortchnoi, Tal, Fischer, Karpov, Kasparov, Anand, Grischuk, Nakamura e Carlsen figuram na lista dos enxadristas que se destacaram/destacam como grandes especialistas nessa modalidade de jogo. No entanto, o maior jogador de blitz de todos os tempos, no meu ponto de vista, não se encontra entre esses que foram citados. Será que você sabe a quem estou me referindo, amigo(a) leitor(a)? Amanhã irei trazer a resposta para essa pergunta. Enquanto isso, você pode deixar o seu palpite nos comentários, para ver se consegue acertar. Até breve!



GALERIA DOS CAMPEÕES MUNDIAIS DE XADREZ - CAPABLANCA


Dando sequência a nossa série de postagens sobre os campeões mundiais de xadrez, hoje iremos falar a respeito do terceiro campeão do mundo, José Raul Capablanca, um jogador pelo qual eu tenho uma grande admiração, em virtude do seu incomparável talento natural. 


JOSÉ RAUL CAPABLANCA 


José Raul Capablanca Y Graupera nasceu em Havana (Cuba), no dia 19 de novembro de 1888. É considerado o enxadrista dotado de maior talento natural da história do xadrez, porque, apesar de não se dedicar com profundidade ao trabalho analítico e à preparação teórica, ainda assim conseguiu demonstrar superioridade sobre a maioria dos seus adversários. Tal superioridade se fez refletir em seus resultados competitivos: sabe-se que ele perdeu pouquíssimas partidas ao longo de sua carreira (ver postagem sobre esse tema clicando aqui), mantendo-se invicto durante 8 anos, no período de 1916 a 1924. Uma lenda muito difundida na literatura enxadrística afirma que Capablanca teria aprendido xadrez aos 4 anos, apenas observando o seu pai jogar com amigos, mas o gênio cubano posteriormente desmentiu essa narrativa. O que se sabe de fato é que ele manifestou desde cedo uma aptidão fora do comum para o jogo, fazendo rápidos progressos e transformando-se em um autêntico prodígio. Seu primeiro grande feito no xadrez foi obtido em 1901, aos 12 anos, quando ele se tornou campeão de Cuba, depois de derrotar o então campeão cubano Juan Corzo em um match.


Foto de Capablanca, ainda muito jovem, jogando com seu pai


No final da adolescência, Capablanca seguiu para estudar nos Estados Unidos, na Universidade de Colúmbia. Começou então a jogar com os melhores jogadores estadunidenses, até se defrontar com o campeão nacional, Frank Marshall, vencendo-o com grande facilidade (+8 -1 =14), para espanto de todos. A boa atuação contra Marshall fez com que fosse admitido no torneio de San Sebastian (Espanha), em 1911, competição que marcou a estreia de Capablanca na arena internacional. Em San Sebastian estava presente a elite enxadrística da época; não obstante, para surpresa geral, o desconhecido jogador cubano de 22 anos terminou em 1º lugar, recebendo o prêmio de beleza pela sua partida contra Ossip Bernstein, o qual, por ironia do destino, havia se mostrado contrário à participação de Capablanca no torneio, alegando que ele não estaria à altura dos demais competidores. Depois desse triunfo em sua primeira competição internacional, a comunidade enxadrística percebeu que havia surgido uma nova estrela no firmamento do xadrez. Capablanca seguiu colecionando vários êxitos nos anos seguintes, até que chegou o momento de desafiar Emanuel Lasker pela disputa do título mundial.  


O jovem Capablanca


Como sabemos pela leitura da publicação dedicada ao segundo campeão mundial, o último enfrentamento de Lasker pelo campeonato mundial antes de perder o título aconteceu em 1910, quando ele esmagou Janovsky por 9,5 x 1,5 (+8 -0 =3). Depois desse match, ocorreu uma prolongada pausa de 11 anos sem luta pela coroa do xadrez, a qual foi motivada, em grande parte, pela deflagração da I Guerra Mundial, que se estendeu de 1914 a 1918. Finalmente, entre março e abril de 1921, celebrou-se o tão esperado encontro entre o campeão Lasker, de 52 anos, e o desafiante Capablanca, em Havana, cidade natal do cubano. O match começou equilibrado, com quatro empates, mas então Capablanca venceu a 5ª partida, graças a um erro de Lasker em uma posição empatada. O desafiante venceu também a 10ª, a 11ª e a 14ª partidas, com as demais terminando em empate. É dito que Lasker teve dificuldades para se adaptar ao clima tropical de Cuba, inclusive teria se sentido mal durante a 14ª partida. Depois de se consultar com um médico, este o aconselhou a não prosseguir com o match, que havia sido programado para ter 24 partidas. Lasker então propôs ao seu adversário que os dez jogos restantes fossem disputados em um local de clima mais ameno, porém, diante da recusa de Capablanca, Lasker decidiu abandonar o confronto, cedendo a coroa ao cubano, que, a essas alturas, já era indiscutivelmente mais forte do que seu venerável rival, merecendo, pois, a conquista do título mundial. Depois de 27 anos, o longo reinado de Lasker chegava ao fim!


Match Lasker vs. Capablanca - 1921


No período em que permaneceu como campeão do mundo (1921 a 1927), Capablanca continuou exibindo sua força ao vencer torneios internacionais importantes, como os torneios de Londres (1922) e Nova Iorque (1924 e 1927). Com tantos sucessos na carreira, o excesso de confiança terminou por prejudicá-lo, pois, ao colocar o título mundial em jogo contra Alexander Alekhine, Capablanca foi derrotado, contrariando a maioria dos prognósticos, que o apontavam como favorito para vencer a disputa. Vale lembrar que, antes do encontro pelo campeonato mundial, Capablanca nunca havia perdido para Alekhine, e muito provavelmente esse fato o levou a negligenciar sua preparação contra aquele formidável oponente, o qual, além da genialidade, possuía também uma enorme capacidade de trabalho. Depois desse revés, Capablanca buscou durante anos jogar um match-revanche contra Alekhine, a fim de tentar reaver o título perdido, entretanto o novo campeão sempre se esquivou do desafio, preferindo colocar o título em jogo em duas ocasiões (1929 e 1934) contra um adversário mais fraco, Efim Bogoljubow, fato que provocou a indignação de Capablanca. Além de evitar jogar um novo match contra o cubano, o campeão mundial buscava evitar encontrá-lo nos torneios, impondo entraves à participação de Capablanca junto aos organizadores, algo que, na minha opinião, constitui uma das várias manchas na reputação do controverso Alekhine. Por causa desses incidentes, esses dois grandes gênios do xadrez terminaram seus dias como inimigos irreconciliáveis.

  


Em relação ao seu estilo de jogo, o terceiro campeão mundial aliava uma assombrosa rapidez de cálculo, um profundo entendimento posicional e uma técnica quase perfeita, combinação que rendeu a ele o apelido de "A máquina de jogar xadrez". Embora possuísse grande capacidade tática, ele costumava evitar as complicações. Seu jogo era simples, lógico e intuitivo, fazendo ressaltar a coordenação harmoniosa entre as peças. Nos finais de partida, sua técnica era quase sempre impecável. Diplomata de profissão, escreveu três livros importantes para a literatura enxadrística mundial: A primer of chess, My chess career e Fundamentos del ajedrez. Seu último êxito competitivo foi a vitória no torneio de Moscou de 1936, à frente de Botvinnik, Flohr e Lasker. Capablanca faleceu em Nova Iorque, no dia 08 de março de 1942, vítima de hemorragia cerebral, e será para sempre lembrado como um dos maiores gênios da história do xadrez. Como uma pequena mostra do seu brilhantismo, vamos reproduzir uma partida jogada em 1933 contra o enxadrista estadunidense Herman Steiner, em que Capablanca, com a precisão de uma engine, sacrifica as duas torres para desfechar um belo xeque-mate ao rei adversário.



quinta-feira, 28 de maio de 2020

SEÇÃO TALENTOS DO XADREZ PARAIBANO


Amigo(a)s, estamos sempre procurando diversificar os assuntos das nossas postagens e trazer ideias novas, com o objetivo de tornar o conteúdo deste blog o mais interessante possível para os nosso(a)s leitore(a)s. Agora estamos com mais uma ideia inovadora, que é a criação da Seção "Talentos do Xadrez Paraibano", em que iremos apresentar, a cada mês, uma entrevista com enxadristas paraibanos de grande potencial, com foco sobretudo nos jogadores mais jovens, crianças e adolescentes. E, para abrir essa nova seção do blog, ninguém melhor do que as irmãs Soares de Medeiros, Sara e Yasmin, da pequenina cidade de Várzea-PB, que no ano passado brilharam em competições regionais e nacionais. Já estamos preparando a entrevista dessas talentosas garotas, e em breve iremos publicá-la aqui, em primeira mão. Aguardem!!



Sara (à esq.) e Yasmin são grandes talentos do xadrez paraibano!

quarta-feira, 27 de maio de 2020

SEÇÃO PARTIDAS GENIAIS


Nesta publicação da Seção Partidas Geniais, vamos apresentar aos leitores uma partida fantástica, sensacional, espetacular! Estamos falando da partida jogada ontem no site Chess.com, entre o GM brasileiro Luís Paulo Supi e o todo-poderoso Magnus Carlsen, Campeão Mundial de Xadrez! Essa foi sem dúvida uma das miniaturas mais brilhantes da história do xadrez, digna de figurar nos manuais do jogo, e comparável, na minha opinião, à famosa "Joia de primeira água", título que recebeu a miniatura jogada por Paul Morphy em 1858, contra dois nobres europeus, em um intervalo da Ópera de Paris (para ver essa belíssima partida, clique aqui). Apesar de ter sido uma partida amistosa e em ritmo blitz (3 minutos K.O.), a qualidade do jogo não deixa a desejar quando comparada a outras obras-primas do xadrez combinatório. 




Jogando de brancas contra uma Defesa Escandinava, o GM Supi primeiramente sacrificou um cavalo em b5 para abrir a coluna "a", depois dobrou suas torres nessa coluna e passou a ameaçar xeque-mate em a8, já que Magnus havia rocado na ala da dama. Carlsen tentou organizar uma defesa, mas quando menos esperava foi surpreendido por completo com o maravilhoso arremate 18. Dc6!!, lance que arrancou exclamações de surpresa do Campeão Mundial. A brilhante partida já circulou por todo o mundo na internet, encantando a comunidade enxadrística internacional, e já recebeu o título de "A Imortal Brasileira" e "o melhor sacrifício de dama de 2020". Sem dúvida, a obra-prima criada por Supi merece ser exaltada por todos, não só pela beleza do golpe tático que arrematou a partida mas também por causa do altíssimo nível do adversário, ninguém menos que o jogador de blitz mais forte da atualidade, um verdadeiro "monstro" que está acostumado a esmagar Grandes Mestres a torto e a direito, em partidas presenciais e on-line! Parabéns, Luís Paulo Supi!!

Vamos acompanhar esta inesquecível miniatura lance a lance:




O vídeo abaixo mostra a reação de Magnus Carlsen diante da linda entrega de dama, que o deixou totalmente estupefato! Simplesmente sen-sa-cio-nal!!



terça-feira, 26 de maio de 2020

GALERIA DOS CAMPEÕES MUNDIAIS DE XADREZ - LASKER


Chegou o momento de apresentarmos aos nossos leitores um pouco sobre a vida e a trajetória enxadrística do segundo campeão mundial de xadrez, Emanuel Lasker. 


EMANUEL LASKER


Emanuel Lasker nasceu na Alemanha, no dia 24 de dezembro de 1868. Desde jovem ele se mostrou um excelente aluno em matemática, mas teve sua atenção atraída pelo xadrez, que aprendeu com seu irmão mais velho, Berthold. Apesar da desaprovação da sua família, o jovem Emanuel começou a participar de competições e a colher seus primeiros êxitos. Depois de vencer vários torneios e matches, Lasker decidiu testar sua força contra o então campeão mundial, Wilhelm Steinitz, e lançou-lhe um desafio pela coroa, em 1893. 


Emanuel Lasker e seu irmão Berthold, em 1907


É dito que Steinitz recebeu o desafio com aparente desdém, isso porque o relativamente desconhecido desafiante ainda não detinha uma grande popularidade no meio enxadrístico. Naquela época, antes que existisse a FIDE para organizar as disputas pelo campeonato mundial, o campeão era na prática o "dono do título", e decidia quem iria enfrentar para colocar o título em jogo. Como condição para a realização do match, o campeão exigia uma "bolsa" em dinheiro, cujo valor deveria ser angariado pelo desafiante para que a disputa acontecesse. No caso de Lasker, Steinitz estipulou para o pagamento da bolsa o valor de 5.000 dólares, sem precedentes até então. Era muito difícil para Lasker reunir uma quantia tão vultosa, por isso ele recorreu a uma estratégia inteligente: começou a dar entrevistas para vários jornais de grande circulação, nos quais fez publicar declarações provocativas sobre o resultado do match contra Steinitz. Sua entrevista ao jornal Chicago Herald foi reproduzida em quase todas as publicações de xadrez do mundo, e nela Lasker assim se expressou: "Nunca joguei até o limite de minhas forças, porque não tive que realizar especial esforço para vencer aqueles mestres com os quais já joguei. Eu concordo totalmente que Steinitz é mais forte que qualquer deles. Apesar disso, estou convencido de que o derrotarei neste match. Posso resultar em uma surpresa que assombrará tanto a Steinitz como ao mundo do xadrez, e todos abrirão seus olhos porque não poderão acreditar no que veem". 
Essa e outras declarações parecidas afetaram tanto a Steinitz que ele mesmo começou a ficar ansioso para disputar o match, a fim de castigar aquele insolente jovem. Como Lasker não conseguiu reunir a soma exigida por Steinitz, o campeão aceitou reduzir o valor da bolsa para 2.000 dólares, de modo que o confronto finalmente foi marcado, e foi sediado nas cidades de Nova Iorque, Filadéfia e Montreal. O match começou no dia 15 de março de 1894, e no dia 26 de maio, há exatos 126 anos, a disputa chegava ao fim, com a vitória do desafiante, conforme ele havia prometido. Depois de 19 partidas, Lasker venceu pelo placar de 12 x 7 (10 vitórias, 5 derrotas e 4 empates), e se tornou o novo campeão mundial de xadrez, com apenas 25 anos.

 
Match Steinitz vs. Lasker - 1894


Em 1896, celebrou-se um match-revanche entre Lasker e Steinitz, mas este, agora na condição de desafiante, foi fragorosamente derrotado, pela esmagadora contagem de 12,5 x 4,5. Depois disso, Lasker colocou o título mundial em jogo em outras seis ocasiões, vencendo sucessivamente Marshall em 1907 (+8 -0 =7), Tarrasch em 1908 (+8 -3 =5), Janovksy em 1909 (+7 -1 =2), Schlechter em 1910 (+1 -1 =8), Janovsky novamente em 1910 (+8 -0 =3), até o embate contra Capablanca em 1921, que marcou a derrota de Lasker diante do genial Grande Mestre cubano. Emanuel Lasker detém o recorde como o campeão do mundo que mais tempo conservou o título - longos 27 anos! Ele se doutorou em matemática e filosofia, e foi também jogador de bridge de alto nível. Esteve na elite do xadrez até uma idade avançada: aos 67 anos disputou com êxito o Torneio de Moscou de 1935. Retomou em grande medida as teorias de Steinitz, mas soube incorporar a elas o componente psicológico, conseguindo como ninguém tirar partido das debilidades de cada um dos seus adversários. Foi também um grande escritor de livros de xadrez, e realizou uma importante contribuição teórica, principalmente no campo das aberturas. Lasker faleceu em Nova Iorque, no dia 11 de janeiro de 1941.




Como exemplo da força competitiva de Lasker, vamos deixar um vídeo de uma de suas mais famosas partidas, a vitória obtida sobre Capablanca no Torneio de São Petersburgo de 1914, vitória que deu a ele o primeiro lugar naquela competição.



segunda-feira, 25 de maio de 2020

VEM AÍ A COPA AXMA DE XADREZ!


Amigo(a)s enxadristas, venho compartilhar com vocês uma ótima notícia para quem gosta de jogar bons torneios de xadrez on-line. A AXMA (Associação de Xadrez Machado de Assis) estará realizando a Copa AXMA de Xadrez, a partir do dia 01 de junho! Confiram mais informações no texto a seguir:

A ASSOCIAÇÃO DE XADREZ MACHADO DE ASSIS, por meio de sua diretoria, vem a vocês com a proposta de realizar um torneio aberto completamente online e gratuito entre os enxadristas de todo o Brasil, que terá início no dia 01 de Junho!
Será realizado com o objetivo de colaborar e tornar o isolamento social mais aprazível aos enxadristas seguindo com as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde.
Como consta no formulário, a premiação será dada simbolicamente através de certificados de participação com seus respectivos lugares a todos os jogadores, sendo divulgado no instagram da Associação os três primeiros jogadores da categoria absoluto, feminino e juvenil!
Será um campeonato de 10 rodadas, com pontos corridos, em que o emparceiramento será realizado através de um programa de emparceiramento como nos torneios presenciais!


VAMOS JUNTOS QUE VENCEREMOS!

Aqui está o Link para o formulário de inscrição e regulamento: forms.gle/vtMfTrrjyUDMAmcu7

Link para o post na nossa página do Instagram: https://www.instagram.com/p/B_-km0CgFR8/

Para mais informações, favor entrar em contato com Eduardo Henrique, vice-presidente e membro fundador da Associação de Xadrez Machado de Assis e Diretor do Torneio: (83) 98807-8229.




Lembrando que a Copa AXMA já está com mais de 50 inscritos, de várias localidades, e tem tudo para ser um excelente torneio. Não deixem de participar, amigo(a)s! 
 

PENSAMENTO DO DIA


"A falta de paciência é provavelmente o motivo mais comum para perder um jogo ou empatar jogos que deveriam ter sido vencidos" (GM Bent Larsen).


Bent Larsen (1935-2010)
 

domingo, 24 de maio de 2020

GALERIA DOS CAMPEÕES MUNDIAIS DE XADREZ - STEINITZ


Agora que já explicamos aos leitores deste blog o que foi a PCA (Professional Chess Association), uma entidade criada por Kasparov e Short para concorrer com a FIDE e organizar torneios e campeonatos mundiais de xadrez, vamos dar início à série de postagens sobre os Campeões Mundiais de xadrez, começando pelo primeiro campeão do mundo, Wilhelm Steinitz!


WILHELM STEINITZ 


Wilhelm Steinitz nasceu na cidade de Praga, antiga Tchecoslováquia, no dia 18 de maio de 1836, no seio de uma numerosa família judia. Apesar de ter se destacado em matemática, Steinitz dedicou-se integralmente ao xadrez durante a sua vida. No início da sua carreira, na cidade de Viena, deixou-se influenciar pelo estilo de jogo vigente na época (o estilo romântico), demonstrando grande habilidade no ataque, qualidade que o fez receber o apelido de "Morphy austríaco", uma alusão ao brilhante norte-americano Paul Morphy, considerado o melhor jogador do mundo entre as décadas de 1850 e 1860.


O jovem Steinitz

 
Mais tarde Steinitz fixou residência em Londres, que juntamente com Paris era o centro enxadrístico mais importante do mundo no século XIX. Lá, Steinitz venceu embates contra vários mestres de notável força, como Bird, Zukertort e Blackburne. Mas foi sua vitória sobre Adolf Anderssen, em 1866, que o elevou à condição de enxadrista mais forte do mundo, pois Morphy a essa altura já havia abandonado o xadrez. A partir da década de 1870, o estilo de jogo de Steinitz passou por uma transformação radical. Sendo um profundo pesquisador e um excelente analista, Steinitz pôde desenvolver novas concepções estratégicas, enfatizando cada vez mais a defesa ao invés do ataque, bem como o acúmulo de pequenas vantagens posicionais como método para vencer as partidas. Com isso a sua supremacia se acentuou, e finalmente, em 1886, ele foi reconhecido oficialmente como o primeiro campeão mundial de xadrez, ao vencer um match contra Johannes Zukertort pelo placar de 12,5 x 7,5 (10 vitórias, 5 derrotas e 5 empates). Depois de conquistar o título mundial em 1886, Steinitz defendeu-o com sucesso contra Chigorin em 1889 (10,5 x 6,5), contra Gunsberg em 1890/1891 (10,5 x 8,5) e novamente contra Chigorin em 1892 (12,5 x 10,5), até perdê-lo para o jovem Emanuel Lasker, em 1894.




Steinitz tentou reconquistar a coroa jogando um match revanche contra Lasker, em 1896, mas foi simplesmente arrasado pela contagem de 12,5 a 4,5  - das 16 partidas disputadas, Steinitz venceu apenas 2, empatou 5 e perdeu 10. Tornou-se claro que Lasker se encontrava em outro patamar de entendimento do jogo, e que Steinitz, com seus 60 anos de idade, já não podia enfrentá-lo. Steinitz acabou seus dias em Nova Iorque, na miséria e com suas faculdades mentais prejudicadas. Conta-se que nessa época ele lançou um desafio a Deus, a quem dizia poder ganhar dando um peão e a saída de vantagem. O primeiro campeão mundial faleceu em um asilo para doentes mentais, em 12 de agosto de 1900. O legado de Steinitz para a teoria do xadrez é imenso, difícil de ser mensurado. Na minha opinião, ele foi o maior teórico da história do xadrez. Há cerca de 1 ano atrás, publicamos um resumo com as principais contribuições  teóricas de Steinitz, que vale a pena ser revisto (https://batalhadementes.blogspot.com/2019/05/o-xadrez-como-ciencia-v.html).

Para finalizar nossa matéria sobre o primeiro campeão mundial, iremos exibir uma das mais belas partidas da história do xadrez, jogada por Steinitz no torneio de Hastings, de 1895, contra o forte enxadrista alemão Curt von Bardeleben, e que ficou conhecida como "A Imortal de Steinitz". 



sábado, 23 de maio de 2020

PCA, UMA CONCORRENTE DA FIDE


Como prometemos em nossa última postagem, iremos agora informar os nossos leitores sobre o que foi a PCA, sigla de Professional Chess Association, ou, traduzindo para o português, Associação dos Profissionais de Xadrez. Praticamente todos os enxadristas conhecem a FIDE, que é a Federação Internacional de Xadrez. A FIDE é a instituição maior do xadrez internacional, que tem sua sede na cidade de Lausanne, na Suíça. Esta entidade reúne as numerosas federações nacionais e, com o aval delas, dirige o xadrez mundial. Atualmente, a FIDE detém a exclusividade na organização das atividades enxadrísticas em âmbito internacional, mas nem sempre foi assim. No passado, houve outras entidades que rivalizaram com a FIDE pelo controle do mundo do xadrez e pela organização dos campeonatos mundiais, e uma delas foi a PCA, criada pelos Grandes Mestres Garry Kasparov e Nigel Short, em 1993.


Kasparov e Short foram os fundadores da PCA


O MI brasileiro Rubens Filguth, em sua importante obra Inteligências em confronto: campeonatos mundiais de xadrez, traz um relato detalhado sobre a criação da PCA e a divisão que abalou o mundo do xadrez no período de 1993 a 2006, quando existiram dois campeões mundiais paralelamente, o campeão mundial oficial, coroado pela FIDE, e o campeão mundial "alternativo". Tentarei apresentar aqui um resumo do que narra o MI Filguth em seu livro. Vamos lá:

No início da década de 1990, o regime comunista da União Soviética entrou em colapso, e com isso Kasparov sentiu-se liberto do controle estatal exercido por aquele regime. Esse fato estimulou uma posição mais crítica do campeão, que, reclamando de corrupção e falta de profissionalismo por parte da FIDE, desfiliou-se da Federação Internacional e constituiu a Professional Chess Association (PCA). Sob a organização dessa nova entidade, Kasparov disputou um match válido pelo título mundial contra o GM inglês Nigel Short, que ano de 1992 havia superado o ex-campeão mundial Karpov na semifinal e o holandês Ian Timman na final do Torneio de Candidatos da FIDE, classificando-se para desafiar o então campeão Garry Kasparov pelo título mundial da FIDE. 
O match de 24 partidas entre Kasparov e Short foi realizado em Londres, em outubro de 1993, e Kasparov venceu de modo convicente, pelo placar de 12,5 x 7,5 (6 vitórias, 1 derrota e 13 empates). Ao mesmo tempo, também em 1993, a FIDE organizou um match válido pelo Campeonato Mundial, entre Karpov e Timman. Esse match foi disputado na Holanda e na Indonésia, e Karpov saiu vitorioso. A partir daí passaram a existir dois campeões do mundo simultaneamente. Esses incidentes representam a origem da divisão que perdurou até 2006, quando ocorreu a reunificação do título mundial. Enquanto essa divisão se manteve, Kasparov defendeu seu título pela PCA em 1995, contra Wiswanathan Anand, vencendo-o, mas, para surpresa geral, em 2000 o "Ogro de Baku" foi derrotado no match contra Vladimir Kramnik, da Rússia, que se sagrou o campeão mundial pela WCC (World Chess Council), instituição também criada por Kasparov em 1998 e que sucedeu a PCA, extinta em 1996.


Em 2000, Kasparov foi destronado por Kramnik, de forma surpreendente

Entre 1993 e 1999, Karpov manteve o título de Campeão Mundial pela FIDE


Pelo lado da FIDE, Karpov conservou o título em 1996, ao vencer o GM russo (hoje naturalizado norte-americano) Gata Kamsky, e em 1998, ao vencer Anand. Ele renunciou ao título em 1999, por discordar das novas regras estabelecidas pela FIDE para a disputa do título mundial, que decidiu substituir o formato tradicional de disputa (zonais, interzonais e Torneio de Candidatos) por um evento formado por matches eliminatórios entre vários participantes. Após a desistência de Karpov, sagraram-se campeões mundiais pela FIDE o russo Alexander Khalifman, em 1999, o indiano Anand, em 2000, o ucraniano Ruslan Ponomariov, em 2002, e o uzbeque Rustam Kasimdzhanov, em 2004.


Alexander Khalifman

Wiswanathan Anand

Ruslan Ponomariov

Rustam Kasimdzhanov


Em 2004, tanto Kramnik quanto Kasimdzhanov eram apontados como campeões, mas a FIDE estava trabalhando arduamente pela reunificação, e depois de diversas reuniões com lideranças do xadrez mundial, a Federação Internacional organizou um torneio visando apontar um novo campeão mundial, que se credenciaria para concorrer à reunificação do título máximo do xadrez. Esse torneio, equivalente a um Campeonato Mundial da FIDE, foi disputado na cidade de San Luis (Argentina), em 2005, e para jogá-lo foram convidados os oito melhores Grandes Mestres da época: Rustam Kasimdzhanov (Campeão Mundial da FIDE), Vladimir Kramnik (Campeão Mundial pela WCC), Michael Adams, Peter Leko, Garry Kasparov, Wiswanathan Anand, Veselin Topalov e Alexander Morozevich. No entanto, Kasparov e Kramnik desistiram da disputa, e com isso suas vagas foram atribuídas a Peter Svidler e Judit Polgar, observando-se como critério de escolha a pontuação na listagem de rating FIDE de julho de 2004 e janeiro de 2005. A participação de Judit Polgar nesse torneio fez dela a primeira mulher a competir pelo título mundial absoluto... infelizmente, ela não se saiu bem na competição, finalizando em último lugar, com 4,5 pontos em 14 possíveis. Na outra ponta da tabela, o campeão foi o búlgaro Veselin Topalov, isolado com 10,0/14,0 pontos, um ponto e meio à frente de Svidler e Anand, que compartilharam o segundo lugar.
A reunificação do título mundial ocorreu apenas no ano de 2006, quando se celebrou um match entre o campeão da FIDE, Topalov, e o campeão da WCC, Kramnik. O match, que teve 16 partidas, foi jogado na cidade russa de Elista, e foi vencido por Kramnik por apenas 1 ponto (8,5 x 7,5). Esse match entre Topalov e Kramnik foi marcado por várias polêmicas e acusações de ambas as partes, e deu início a uma rivalidade duradoura (para saber mais sobre o assunto, leia o artigo do GM Rafael Leitão, clicando aqui). Porém, como o resultado do match foi oficialmente reconhecido, finalmente a divisão no mundo do xadrez foi superada, e um único campeão voltou a ostentar o título mais cobiçado da história do nosso esporte!


Kramnik (à esq.) tornou-se Campeão Mundial em 2006, ao derrotar Topalov


Fontes
FILGUTH, Rubens. Inteligências em confronto: campeonatos mundiais de xadrez. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Wikipedia, a enciclopédia livre.