quarta-feira, 11 de novembro de 2020

SÄMISCH, UM PERSONAGEM SINGULAR

 

Friedrisch Sämisch foi um Grande Mestre e teórico do xadrez, nascido em Berlim, em 1896. Por causa da sua longevidade, ele pôde enfrentar três gerações de Grandes Mestres e campeões mundiais. Contribuiu para o prestígio do xadrez alemão nos anos 1920, juntamente com os formidáveis Lasker e Tarrasch. Nessa época, quando alcançou a elite do xadrez mundial, "cruzava espadas" com Capablanca e Alekhine. Da geração seguinte, ele se defrontou com Keres, Flohr, Botvinnik e Reshevsky. Seu maior êxito foi o 3º lugar no fortíssimo torneio de Baden-Baden (1925), atrás de Alekhine e Rubinstein, mas superando a Bogoljubow, Spielmann, Tartakower, Nimzowitsch, Reti e Tarrasch, entre outros. 

 

Friedrisch Sämisch (1896-1975)

 

Sämisch era um clássico boêmio do xadrez. De 1920 a 1930 vivia exclusivamente em hotéis; viajava com frequência para participar dos grandes torneios, e sua vida era muito controlada, possuindo uma só mala. Ao invés de lavar seu traje, comprava um novo; tirava sua roupa íntima suja e comprava uma nova. Desta maneira nunca tinha problemas com sua bagagem, ao contrário do seu companheiro Alekhine, que sempre viajava com 24 malas, três gatos e uma esposa. Vivia de um modo pouco convencional, sem alardes nem luxos. Tivesse ou não dinheiro, sempre viajava de táxi. No pior dos casos, surpreendia os seus amigos: "Querido amigo, não tenho um só centavo; poderia me emprestar quatro ou cinco marcos para o táxi?". Ninguém podia rechaçar os seus humildes desejos. Os conhecidos mestres alemães Heinicke, Kieninger e Lehmann facilitavam a vida do mestre em sua velhice. Em certa ocasião, ao chegar em casa após um longo período de ausência disputando torneios, deparou-se com um bilhete deixado por sua esposa, que decidiu abandoná-lo porque não suportava que ele gostasse mais do xadrez do que dela. 

Quando jogava xadrez, Sämisch estava mais interessado no aspecto artístico do que no aspecto competitivo, por isso nunca se preocupou com o apuro de tempo em suas partidas. Isto lhe custava muitos pontos; em Busum (1969), estabeleceu uma marca difícil de romper: perdeu todos os seus jogos por tempo! Contudo, é preciso levar em consideração que nessa ocasião ele já contava com mais de 70 anos, idade em que o raciocínio normalmente se torna mais lento. No torneio de Karlsbad, em 1929, obteve o primeiro prêmio de brilhantismo graças à seguinte combinação:

 

Sämisch x Grünfeld - Karlsbad, 1929

 

43. Txf5!! Cxf5 44. Cg6+ Rg8 45. Te7 Tf7 Todas as peças estão taticamente defendidas:

a) 45. ... Cxh4 46. Tg7#

b) 45. ... hxg6 46. Dh7#

c) 45. ... Cxe7 46. fxe7

46. Txf7 Rxf7 47. Ce5+ Rf8 48. Dxh7 1-0 

 

Sämisch faleceu em 16 de agosto de 1975, vítima de um acidente vascular cerebral. Na atualidade, ele é lembrado por suas contribuições à teoria das aberturas, tendo duas das mais importantes variantes com o seu nome: variantes Sämisch da Defesa Índia do Rei e da Defesa Nimzoíndia, respectivamente:

  • 1.d4 Cf6 2.c4 g6 3.Cc3 Bg7 4.e4 d6 5.f3
  • 1.d4 Cf6 2.c4 e6 3.Cc3 Bb4 4.a3

Também recebem seu nome as seguintes variantes de menor importância, respectivamente da Defesa Alekhine e da Defesa Índia da Dama:

  • 1. e4 Cf6 2. e5 Cd5 3. Cc3
  • 1. d4 Cf6 2. c4 b6

Brevemente, voltaremos a falar a respeito de F. Sämisch, abordando um curioso episódio em que ele se envolveu numa partida contra o grande Capablanca... até lá!

 

FONTE: FREY, Kenneth. Ajedrez en cápsulas

 

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