segunda-feira, 2 de novembro de 2020

JOGANDO XADREZ COM UM "MORTO"

 

No mundo ocidental, desde a Idade Média o dia 02 de novembro é reservado para a celebração do Dia de Finados ou Dia dos Fiéis Defuntos. Essa data foi instituída pela Igreja Católica no século X, com o objetivo de se rezar pelas pessoas que partiram do plano físico, e para suplicar a Deus que as almas que estivessem no Purgatório pudessem alcançar o Paraíso. Na atualidade, apesar do grande processo de secularização que a civilização ocidental sofreu ao longo da modernidade, o Dia de Finados continua a ser uma data especial, na qual a memória dos entes queridos que já se foram nos vem à mente, e em que milhões de pessoas vão aos cemitérios levar suas flores, velas, sentimentos e orações. Acho louvável esse ato dos cristãos em prestar homenagens e lembrar com carinho dos seus entes queridos já falecidos, mas será que eles estão mesmo mortos? Como adepto da Doutrina Espírita, estou plenamente convencido de que os espíritos dos seres humanos continuam vivendo após a morte do corpo físico, inclusive hoje em dia já existem evidências científicas suficientes para comprovar a imortalidade do espírito e a existência da reencarnação. 

Trazendo este assunto para o âmbito do xadrez, em 1985 foi realizado um experimento muito interessante: organizou-se uma partida de xadrez entre o GM Viktor Kortchnoi e um suposto espírito que afirmava ser o antigo campeão húngaro Géza Maroczy, falecido em 1951. Esse encontro inusitado foi promovido por iniciativa de um enxadrista amador suíço, o Doutor em Economia Wolfgang Eisenbeiss, que estava interessado em buscar evidências para provar a existência da vida no "além". A partida foi disputada com o auxílio do médium Robert Rollans (1914-1993), que teria recebido do suposto espírito as jogadas a serem executadas no tabuleiro. Médium, conforme nos ensina a Doutrina Espírita, é a pessoa dotada da capacidade de se comunicar com os espíritos. Rollans foi o escolhido para atuar no experimento porque não sabia jogar xadrez e não conhecia nada a respeito da história do jogo, não conhecia nem mesmo quem eram os envolvidos na disputa. Somente com o desenrolar da partida ele foi adquirindo os rudimentos mais básicos do jogo, mas apenas para que isso o ajudasse a entender melhor o conteúdo das comunicações. O suposto espírito de Maroczy comunicava-se tanto em húngaro (sua língua nativa) quanto em alemão, e quando perguntado o porquê de haver concordado em jogar aquela partida, ele deu a seguinte resposta: "Concordei por dois motivos. Primeiro, quero convencer a humanidade de que a morte não é o fim. Vim ajudar as pessoas a entender isso. Após a morte, a mente se separa do corpo e vive em outro mundo, em outras dimensões. Em segundo lugar, quero glorificar minha Hungria natal".

 

GM Viktor Kortchnoi (à esq.) e GM Géza Maroczy
 

A partida entre Kortchnoi e o "espírito" de Maroczy começou a ser jogada no dia 15 de junho de 1985, e nas fontes de pesquisa por mim consultadas não é mencionado o meio de comunicação usado para transmitir os lances entre Rollans e Kortchnoi e vice-versa, mas tudo indica que se tratou de uma partida de xadrez por correspondência. Algo que chama a atenção foi a longa duração do jogo: ele durou 7 anos e 8 meses, terminando no dia 11 de fevereiro de 1993! A longa duração da partida foi devida às frequentes viagens de Kortchnoi, bem como aos compromissos de trabalho, viagens e problemas de saúde de Robert Rollans. Durante o experimento, o médium Rollans e Kortchnoi não tiveram contato em nenhum momento. Coube ao espírito de Maroczy jogar com as peças brancas, e ele abriu o jogo com 1. e4. Kortchnoi respondeu e6, empregando a sua favorita Defesa Francesa. À medida que o embate se desenvolvia, Kortchnoi manifestava suas impressões sobre a partida. À altura do lance 27, quando o jogo já havia entrado em um final de torres e peões, ele comentou: "Durante a fase de abertura, Maroczy mostrou deficiência. Seu jogo é antiquado. Mas devo confessar que meus últimos movimentos também não foram convincentes. Não estou certo de que ganharei. Ele compensou as falhas da abertura por um forte fim de jogo. No fim do jogo a habilidade de um jogador aparece, e meu oponente joga muito bem". Enfim, no 47º movimento, o suposto espírito admitiu a derrota e abandonou. Esse confronto entre um vivo e um "morto" ficou conhecido na história do xadrez como a famosa partida espiritualista entre Kortchnoi e o "fantasma" de Géza Maroczy. Ao analisá-la, o ex-campeão sul-africano de xadrez Vernom Neppe declarou: "Esse nível não poderia ter sido alcançado pelo médium mesmo após um grande treinamento, presumindo que o médium não fosse um gênio do xadrez".

 

Partida espiritualista entre Maroczy e Kortchnoi - posição final

 

Irei deixar um link para a partida, mas quero mostrar também a posição final, que está representada no diagrama acima. As brancas estão perdidas, porque se tentarem jogar 48. b4, avançando o peão com a intenção de promovê-lo, as negras respondem simplesmente com 48. ... c2 49. Rxc2 (forçado) Re2, abrindo passagem para a descida do peão de d4, que chega antes à oitava fila do que o seu colega de b4. É claro que, para os mais céticos, sempre irá pairar a dúvida quanto à autenticidade da partida, afinal quem pode garantir que o médium não estaria recebendo ajuda de um ou mais jogadores de carne e osso? Pois bem: o que torna esse caso ainda mais impressionante é que o Dr. Eisenbeiss, idealizador do experimento, resolveu se certificar da identidade do suposto espírito. Para isso, ele solicitou a Maroczy, através do médium Rollans, um relatório contendo dados sobre a sua vida na terra. No dia 31 de julho de 1986, Rollans recebeu um longo texto de 38 páginas, com riqueza de informações acerca da vida do GM húngaro, e com detalhes que ninguém, com exceção do próprio Maroczy, poderia saber. As informações do relatório posteriormente foram confirmadas por Lászlo Sebestyén, um historiador e perito em xadrez da Hungria. Apesar disso, quando o Dr. Eisenbeiss publicou o resultado do seu experimento, o mundo científico reagiu negativamente, e o acusou de fraude, reação muito comum por parte dos cientistas ortodoxos, que se recusam a aceitar a realidade incontestável da vida no plano espiritual. Vale salientar que nem Viktor Kortchnoi nem o médium Robert Rollans receberam qualquer valor financeiro para participarem do experimento. Segue, conforme prometido, o link para a partida completa (veja a partida aqui).

E você, amigo(a) leitor(a), o que pensa sobre esse episódio? Você acredita na possibilidade da interação entre o mundo físico e o mundo espiritual? Já vivenciou ou conhece alguém que já vivenciou alguma experiência dessa natureza? Deixe sua opinião nos comentários, ela será muito bem-vinda. Até breve!

 

FONTES

https://www.metabunk.org/threads/chess-victor-korchnoi-vs-geza-maroczy.1769/

https://kirsan.today/en/opinion/item/3305-geza-maroczy-i-came-to-say-that-death-is-not-the-end.html

Revista Ciência Espírita. Edição 10 - Dez/2016. Pág. 13-29. https://revistacienciaespirita.com/


2 comentários:

  1. Achei bastante curioso. Tudo pode acontecer. Talvez tenha sido mesmo o espírito. Talvez não. Pode ser que Wolfgang tenha pedido ajuda do historiador enxadrístico para desenvolver o relatório e depois dizerem que foi o espírito. Ou talvez tenha mesmo sido um espírito. Talvez o único quem sabe a verdade é Deus e quem sabe o próprio Marocze

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  2. Obrigado pelo seu comentário, Yasashi. Sobre a hipótese de o historiador Sebestyén ter produzido o relatório com as informações sobre a vida do GM Géza Maroczy, o que está documentado é que ele foi contratado por Wolfgang Eisenbeiss para confirmar a veracidade das informações, tarefa que ele executou à custa de muito esforço, pois nesse processo ele precisou consultar várias bibliotecas e conversar com dois filhos de Maroczy ainda vivos (ambos com mais de 80 anos) e um primo deles. Resultado: 94% das informações prestadas pelo suposto espírito foram confirmadas!

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