Chegamos ao mês de maio, e vamos abri-lo
inaugurando uma nova seção aqui no blog: a seção Personalidades do Xadrez Brasileiro, que tem como objetivo resgatar a memória de notáveis cultores do
enxadrismo nacional, que viveram no século XIX e no século XX, e que hoje
infelizmente caíram no quase total esquecimento. Para quem se interessa pela
história do xadrez, assim como eu, as matérias desta seção se constituirão em
uma rica e agradável fonte de informações!
Para abrir a referida seção,
iremos apresentar aos leitores o ilustre Artur
Napoleão dos Santos, considerado o pioneiro do xadrez no Brasil. Na sua
grandiosa obra Epopeia do
Campeonato Brasileiro de Xadrez: 1927-2008,
sem dúvida um marco na literatura enxadrística nacional, o jornalista e
escritor Waldemar Costa assim inicia a introdução do seu livro: “O xadrez no
Brasil nasceu no século XIX. O pai foi o grande pianista português Artur
Napoleão (1843-1925), que se radicou no Rio de Janeiro, a então corte do
Imperador Dom Pedro II. Além de músico e enxadrista, ele gostava de escrever. E
fazia isso também muito bem. Devido às suas narrativas, as iniciativas
enxadrísticas da sua época são conhecidas nos dias de hoje. Antes, caímos numa
escuridão total em relação ao xadrez. Não existe documentação sobre atividades
anteriores ao século XIX. Ao que parece, a vida da nação essencialmente agrícola
não permitiu ao jogo-ciência criar raízes”.
Capa do livro Epopeia do Campeonato Brasileiro de Xadrez |
Após essa esclarecedora
introdução, Waldemar Costa prossegue seu relato sobre Artur Napoleão,
informando que ele decidiu radicar-se definitivamente no Rio de Janeiro em meados da década de
1860, e que foi este o impulso que faltava para o xadrez criar raízes no
Brasil.
Artur Napoleão nasceu na
cidade do Porto, em Portugal, no dia 06 de março de 1843, e era um virtuose do
piano desde muito novo. Sendo uma criança-prodígio, viajou pelo mundo realizando concertos musicais, e, em uma dessas viagens, teve a oportunidade de conhecer e
jogar com o lendário Paul Morphy, em Nova Iorque, no ano de 1859.
A partir da década de 1870,
Napoleão passou a colaborar efetivamente para o desenvolvimento do xadrez em
nosso país, primeiramente publicando uma coluna sobre o jogo na revista Ilustração
Brasileira, em 1877. Um ano depois, em 1878, ocorreu a fundação de um clube de
xadrez no Rio de Janeiro, cuja diretoria era formada por Artur Napoleão, pelo
Visconde de Pirapetinga (pai de João Caldas Viana Neto), e pelo escritor
Machado de Assis, que foi um dos principais cultores do enxadrismo pátrio em
seus primórdios.
Mais tarde, em 1880, foi
realizado um minitorneio, o qual, segundo relata Waldemar Costa, deve ter sido
o primeiro ocorrido no Brasil. Esse torneio aconteceu na residência de Artur
Napoleão, localizada na Rua Marquês de Abrantes, no bairro de Botafogo, e dele
tomaram parte seis enxadristas, a saber: João Caldas Viana Neto, Machado de Assis,
Vitoriano José Palhares, Carlos Pradez, Joaquim Navarro e o anfitrião, Artur
Napoleão, que venceu a competição, com Caldas Viana terminando em segundo lugar
e Carlos Pradez em terceiro.
Nesse torneio foi disputada
a seguinte partida, que terminou em vitória de Artur Napoleão (com as brancas)
sobre Caldas Viana (na época, com apenas 17 anos de idade), em um animado
Gambito Evans, abertura muito utilizada no século XIX:
1.e4
e5 2.♘f3 ♘c6 3.♗c4 ♗c5 4.b4 ♗xb4 5.c3 ♗c5 6. 0-0 d6
7.d4 exd4 8.cxd4 ♗b6 9.♗b2 ♘f6 10.d5 ♘a5 11.♗d3 0-0 12.h3 ♘h5 13.♘d4 ♘f4 14.♘f5 ♕g5 15. ♕f3 ♘xd3 16.♕xd3 ♗xf5 17.exf5 c6
18.♘d2 cxd5
19. ♕xd5 ♖ac8 20.♘e4 ♕h5 21.♘xd6 ♖c2 22.♕e5 f6 23. ♕e6+ ♔h8 24.g4
1-0
Artur Napoleão em idade madura |
Por muitos anos, Artur
Napoleão atuou intensamente na imprensa enxadrística e fundou novos clubes de
xadrez, ajudando assim a difundir cada vez mais a Arte de Caíssa. Ele também
foi autor de três livros de xadrez: “Problemas, Enigmas, Esfinges e Fantasias”
(1887), “Primeiro Torneio de Problemas do Rio de Janeiro” (1888) e “Caissana
Brasileira” (1898), considerada sua maior obra literária, a qual continha 505
diagramas de problemas de autores brasileiros.
Artur Napoleão faleceu no
dia 12 de maio de 1925, no Rio de Janeiro. Ao finalizar esta matéria, queremos
saudar a memória desse grande amante do nobre jogo, que tanto contribuiu para o
desenvolvimento do esporte em terras brasileiras. Obrigado por seu amor e
dedicação ao xadrez, maestro Artur!
O próximo homenageado da seção Personalidades do Xadrez Brasileiro será o grande João Caldas Viana Neto, o melhor enxadrista brasileiro do século XIX!
FONTE: COSTA, Waldemar. Epopeia do Campeonato Brasileiro de Xadrez: 1927 - 2008. Santana de Parnaíba-SP: Ed. Solis, 2009.
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