sábado, 4 de maio de 2019

SEÇÃO PERSONALIDADES DO XADREZ BRASILEIRO



       Chegamos ao mês de maio, e vamos abri-lo inaugurando uma nova seção aqui no blog: a seção Personalidades do Xadrez Brasileiro, que tem como objetivo resgatar a memória de notáveis cultores do enxadrismo nacional, que viveram no século XIX e no século XX, e que hoje infelizmente caíram no quase total esquecimento. Para quem se interessa pela história do xadrez, assim como eu, as matérias desta seção se constituirão em uma rica e agradável fonte de informações!


 Para abrir a referida seção, iremos apresentar aos leitores o ilustre Artur Napoleão dos Santos, considerado o pioneiro do xadrez no Brasil. Na sua grandiosa obra Epopeia do Campeonato Brasileiro de Xadrez: 1927-2008, sem dúvida um marco na literatura enxadrística nacional, o jornalista e escritor Waldemar Costa assim inicia a introdução do seu livro: “O xadrez no Brasil nasceu no século XIX. O pai foi o grande pianista português Artur Napoleão (1843-1925), que se radicou no Rio de Janeiro, a então corte do Imperador Dom Pedro II. Além de músico e enxadrista, ele gostava de escrever. E fazia isso também muito bem. Devido às suas narrativas, as iniciativas enxadrísticas da sua época são conhecidas nos dias de hoje. Antes, caímos numa escuridão total em relação ao xadrez. Não existe documentação sobre atividades anteriores ao século XIX. Ao que parece, a vida da nação essencialmente agrícola não permitiu ao jogo-ciência criar raízes”.


Capa do livro Epopeia do Campeonato Brasileiro de Xadrez


Após essa esclarecedora introdução, Waldemar Costa prossegue seu relato sobre Artur Napoleão, informando que ele decidiu radicar-se definitivamente no Rio de Janeiro em meados da década de 1860, e que foi este o impulso que faltava para o xadrez criar raízes no Brasil.

Artur Napoleão nasceu na cidade do Porto, em Portugal, no dia 06 de março de 1843, e era um virtuose do piano desde muito novo. Sendo uma criança-prodígio, viajou pelo mundo realizando concertos musicais, e, em uma dessas viagens, teve a oportunidade de conhecer e jogar com o lendário Paul Morphy, em Nova Iorque, no ano de 1859.
  


Gravura retratando Artur Napoleão aos 14 anos, ao lado do piano


A partir da década de 1870, Napoleão passou a colaborar efetivamente para o desenvolvimento do xadrez em nosso país, primeiramente publicando uma coluna sobre o jogo na revista Ilustração Brasileira, em 1877. Um ano depois, em 1878, ocorreu a fundação de um clube de xadrez no Rio de Janeiro, cuja diretoria era formada por Artur Napoleão, pelo Visconde de Pirapetinga (pai de João Caldas Viana Neto), e pelo escritor Machado de Assis, que foi um dos principais cultores do enxadrismo pátrio em seus primórdios.

Mais tarde, em 1880, foi realizado um minitorneio, o qual, segundo relata Waldemar Costa, deve ter sido o primeiro ocorrido no Brasil. Esse torneio aconteceu na residência de Artur Napoleão, localizada na Rua Marquês de Abrantes, no bairro de Botafogo, e dele tomaram parte seis enxadristas, a saber: João Caldas Viana Neto, Machado de Assis, Vitoriano José Palhares, Carlos Pradez, Joaquim Navarro e o anfitrião, Artur Napoleão, que venceu a competição, com Caldas Viana terminando em segundo lugar e Carlos Pradez em terceiro.

Nesse torneio foi disputada a seguinte partida, que terminou em vitória de Artur Napoleão (com as brancas) sobre Caldas Viana (na época, com apenas 17 anos de idade), em um animado Gambito Evans, abertura muito utilizada no século XIX:

1.e4 e5  2.f3 c6  3.c4 c5  4.b4 xb4  5.c3 c5  6. 0-0 d6  7.d4 exd4  8.cxd4 b6  9.b2 f6  10.d5 a5  11.d3 0-0  12.h3 h5  13.d4 f4  14.f5 g5  15. f3 xd3  16.xd3 xf5  17.exf5 c6  18.d2 cxd5  19. xd5 ac8  20.e4 h5  21.xd6 c2  22.e5 f6  23. e6+ h8  24.g4  1-0



Artur Napoleão em idade madura


   Por muitos anos, Artur Napoleão atuou intensamente na imprensa enxadrística e fundou novos clubes de xadrez, ajudando assim a difundir cada vez mais a Arte de Caíssa. Ele também foi autor de três livros de xadrez: “Problemas, Enigmas, Esfinges e Fantasias” (1887), “Primeiro Torneio de Problemas do Rio de Janeiro” (1888) e “Caissana Brasileira” (1898), considerada sua maior obra literária, a qual continha 505 diagramas de problemas de autores brasileiros.

     Artur Napoleão faleceu no dia 12 de maio de 1925, no Rio de Janeiro. Ao finalizar esta matéria, queremos saudar a memória desse grande amante do nobre jogo, que tanto contribuiu para o desenvolvimento do esporte em terras brasileiras. Obrigado por seu amor e dedicação ao xadrez, maestro Artur!

     O próximo homenageado da seção Personalidades do Xadrez Brasileiro será o grande João Caldas Viana Neto, o melhor enxadrista brasileiro do século XIX!


FONTE: COSTA, Waldemar. Epopeia do Campeonato Brasileiro de Xadrez: 1927 - 2008. Santana de Parnaíba-SP: Ed. Solis, 2009.

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