Há exatamente 1 semana atrás terminava a Copa AXMA de Xadrez, torneio on-line realizado pela Associação de Xadrez Machado de Assis, entidade formada por enxadristas das cidades paraibanas de Sapé e de Guarabira, e que visa à promoção do xadrez e da leitura. O referido torneio contou com a participação de mais de 70 jogadores, de vários estados brasileiros, e foi brilhantemente vencido pelo jovem José Carlos Estevão de Castro Júnior, o Júnior Castro, morador da pequena cidade de Varre-Sai, localizada no norte do estado do Rio de Janeiro. Júnior Castro liderou a competição desde o início, vencendo nove partidas e empatando apenas uma, e demonstrou um jogo sólido e com poucos erros. Conforme anunciamos anteriormente, hoje vamos publicar uma entrevista com esse promissor enxadrista, a quem agradecemos pela gentileza de aceitar o convite para compartilhar com nosso público leitor mais detalhes a respeito da sua trajetória pessoal e enxadrística. Obrigado, Júnior! Vamos à entrevista!
ENTREVISTA COM JÚNIOR CASTRO
Blog BM: Júnior, agradeço a você pela disponibilidade de
conceder esta entrevista. Peço que faça uma breve apresentação para os leitores
do blog Batalha de Mentes.
Júnior: Olá, me chamo José Carlos Estevão de Castro
Júnior, mais conhecido apenas como Júnior Castro, tenho 19 anos, e sou de
Varre-Sai, interior do Rio de Janeiro. Além de apreciador do xadrez, também sou
estudante de Administração, fã de esportes no geral, e passo a maior parte do
dia trabalhando como professor particular para crianças e adolescentes. No
meu tempo livre, jogo xadrez.
Blog BM: Há quanto tempo você joga xadrez, e como
foi seu primeiro contato com o jogo?
Júnior: Conheci o jogo por volta de 2009-2010 na minha
antiga escola, ali eu aprendi uma coisa ou outra sobre xadrez, mas não devia
nem saber o que era o xeque-mate. Foi apenas recentemente, em março de 2019,
que minha curiosidade pelo jogo cresceu e comecei a praticar e me aprofundar
neste mundo.
Blog BM: Seu nível de jogo é bem alto para quem
começou a jogar há tão pouco tempo. Qual o seu segredo para progredir tão
rapidamente?
Júnior: Creio que seja
minha paixão pelo mesmo, não me lembro a última vez que passei um dia sem
consumir xadrez, seja jogando ou assistindo algo sobre. Além disso, sempre
joguei com oponentes mais fortes, acho que meu espírito competitivo me forçou a
melhorar para eu conseguir jogar para ganhar, e não só perder como eu fazia no início.
Blog BM: Como é o seu treinamento? Tem algum livro
ou site que você use para estudar?
Júnior: Faço exercícios
de tática e de finais todos os dias, além disso assisto partidas comentadas de
GMs com certa regularidade, analisando seus lances, buscando compreendê-los e
utilizar os mesmos conceitos em minhas partidas. Um diferencial é que, pelo
menos uma vez na semana, eu escolho um tema estratégico que eu acredito estar
precisando melhorar com rapidez, busco posições com o tal tema, e jogo
repetidas vezes contra a engine mais forte que eu encontrar, e só paro quando
eu sentir que entendi minha vantagem e que consigo ver com clareza os pontos
positivos daquela estrutura de peças.
Blog BM: Você tem algum projeto ou sonho relacionado
ao xadrez que gostaria de colocar em prática no futuro?
Júnior: Meu sonho no
mundo enxadrístico é o mesmo desde quando comecei, me tornar um jogador
titulado pela FIDE. Acredito que com o passar dos anos, e com bastante foco e
dedicação, eu consiga romper essa barreira que parece tão invencível e possa me
tornar um Mestre FIDE.
Blog BM: No seu perfil do Lichess, você se define
como fã do GM Anatoly Karpov. Por que você gosta do Karpov, e quais as
características do jogo dele que você tenta levar para suas partidas?
Júnior: Karpov é meu
jogador modelo, além de um cavalheiro dentro e fora dos tabuleiros. Um mestre
do jogo posicional, e na minha opinião o jogador que mais soube utilizar a
Caro-Kann (minha defesa favorita). Foi campeão mundial por mais de 10 anos, e
consegue passar suas ideias e explicar seu modo de pensar com muita clareza,
diferente de um Tal ou um Magnus Carlsen, que são gênios do jogo, mas muito do
que eles fazem é intuitívo, existe somente na cabeça genial deles, e que
dificilmente será replicado. O diferencial do Karpov é que suas jogadas são
simples, objetivas e lindas, você consegue perceber como ele vai esmagando seus
adversários aos poucos e levando a partida para um final com uma pequena vantagem, que na
maioria das vezes ele vai vencer de forma impiedosa. Tento sempre usar suas
ideias de abertura e de estratégia no meu jogo. Penso que ele seria mais
recohecido se não tivesse seu auge entre o das duas lendas do esporte, Fischer
e Kasparov...
Blog BM: Você teve uma brilhante atuação na Copa
AXMA, sagrando-se campeão merecidamente. Quais as suas considerações sobre o
torneio e sobre o seu desempenho?
Júnior: Não tenho nada a
comentar, a não ser agradecer a todos os que participaram e elogiar a organização,
que foi muito atenciosa com todos e não deixou acontecer nenhum problema. Foi
sem dúvidas um campeonato muito divertido e acredito que todos que jogaram
ficaram satisfeitos por jogá-lo.
Blog BM: E quanto aos torneios presenciais, você
também participa deles? Como é o desenvolvimento do xadrez na região onde você
mora?
Júnior: Pelo fato de eu
morar no interior, os únicos torneios presenciais que eu joguei foram torneios
não oficiais, torneios de faculdade ou organizados por amigos. Quando a
pandemia passar, pretendo fazer algumas viagens para a capital do meu estado,
eu já tinha planos de jogar por lá este ano. Infelizmente o xadrez onde eu moro
não é muito popular.
Blog BM: Uma pergunta que faço à maioria dos
entrevistados: o que você acha que está faltando para o xadrez ser mais
valorizado em nosso país?
Júnior: Acredito que os
brasileiros no geral são muito mais fãs de brasileiros que se destacam nos esportes do que dos
esportes em si. Com o excelente trabalho que os jogadores estão fazendo nas
mídias digitais (blogs, canais do youtube, etc.), não duvido que daqui a alguns
anos jogadores de nível mundial apareçam por aqui e assim a mídia nacional
deverá dar mais atenção para o jogo dos reis. Também existem projetos para que
o xadrez se torne matéria nas escolas, provocando assim um grande "boom"
na quantidade e na qualidade dos enxadrístas brasileiros.
Blog BM: Ao chegarmos ao término da entrevista,
que mensagem você poderia deixar para os leitores do blog?
Júnior: Primeiramente um
obrigado a você por me chamar, sou leitor do blog e fiquei muito feliz em ser
convidado! Espero que todos que tenham lido possam ter tirado uma coisa aqui ou
ali, e o mais importante que quero deixar é: Não deixem nunca o xadrez, esse
jogo com elementos de ciência e de arte, que é simples de aprender e difícil
de se dominar. O xadrez mudou minha vida e minha forma de pensar. Sempre se divirtam e
claro, bom jogo a todos!
É isto amigo(a)s, espero que tenham gostado da entrevista. Acredito que o Júnior Castro tem condições de se tornar um jogador de primeira categoria, pois tem inegável talento e leva a sério o treinamento. Por falar em treinamento, considero suas dicas de treino valiosas para outros jogadores que queiram evoluir no xadrez. Irei torcer para que ele consiga concretizar o seu sonho de se tornar Mestre FIDE, e para que as previsões que ele fez sobre o futuro do xadrez brasileiro se realizem. Um abraço a todos e até a próxima entrevista!
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