sexta-feira, 10 de julho de 2020

ENTREVISTA COM O CAMPEÃO DA COPA AXMA


Há exatamente 1 semana atrás terminava a Copa AXMA de Xadrez, torneio on-line realizado pela Associação de Xadrez Machado de Assis, entidade formada por enxadristas das cidades paraibanas de Sapé e de Guarabira, e que visa à promoção do xadrez e da leitura. O referido torneio contou com a participação de mais de 70 jogadores, de vários estados brasileiros, e foi brilhantemente vencido pelo jovem José Carlos Estevão de Castro Júnior, o Júnior Castro, morador da pequena cidade de Varre-Sai, localizada no norte do estado do Rio de Janeiro. Júnior Castro liderou a competição desde o início, vencendo nove partidas e empatando apenas uma, e demonstrou um jogo sólido e com poucos erros. Conforme anunciamos anteriormente, hoje vamos publicar uma entrevista com esse promissor enxadrista, a quem agradecemos pela gentileza de aceitar o convite para compartilhar com nosso público leitor mais detalhes a respeito da sua trajetória pessoal e enxadrística. Obrigado, Júnior! Vamos à entrevista!


ENTREVISTA COM JÚNIOR CASTRO

 
Blog BM: Júnior, agradeço a você pela disponibilidade de conceder esta entrevista. Peço que faça uma breve apresentação para os leitores do blog Batalha de Mentes.

Júnior: Olá, me chamo José Carlos Estevão de Castro Júnior, mais conhecido apenas como Júnior Castro, tenho 19 anos, e sou de Varre-Sai, interior do Rio de Janeiro. Além de apreciador do xadrez, também sou estudante de Administração, fã de esportes no geral, e passo a maior parte do dia trabalhando como professor particular para crianças e adolescentes. No meu tempo livre, jogo xadrez.

Blog BM: Há quanto tempo você joga xadrez, e como foi seu primeiro contato com o jogo?

Júnior: Conheci o jogo por volta de 2009-2010 na minha antiga escola, ali eu aprendi uma coisa ou outra sobre xadrez, mas não devia nem saber o que era o xeque-mate. Foi apenas recentemente, em março de 2019, que minha curiosidade pelo jogo cresceu e comecei a praticar e me aprofundar neste mundo.

Blog BM: Seu nível de jogo é bem alto para quem começou a jogar há tão pouco tempo. Qual o seu segredo para progredir tão rapidamente?

Júnior: Creio que seja minha paixão pelo mesmo, não me lembro a última vez que passei um dia sem consumir xadrez, seja jogando ou assistindo algo sobre. Além disso, sempre joguei com oponentes mais fortes, acho que meu espírito competitivo me forçou a melhorar para eu conseguir jogar para ganhar, e não só perder como eu fazia no início.



Blog BM: Como é o seu treinamento? Tem algum livro ou site que você use para estudar?

Júnior: Faço exercícios de tática e de finais todos os dias, além disso assisto partidas comentadas de GMs com certa regularidade, analisando seus lances, buscando compreendê-los e utilizar os mesmos conceitos em minhas partidas. Um diferencial é que, pelo menos uma vez na semana, eu escolho um tema estratégico que eu acredito estar precisando melhorar com rapidez, busco posições com o tal tema, e jogo repetidas vezes contra a engine mais forte que eu encontrar, e só paro quando eu sentir que entendi minha vantagem e que consigo ver com clareza os pontos positivos daquela estrutura de peças.

Blog BM: Você tem algum projeto ou sonho relacionado ao xadrez que gostaria de colocar em prática no futuro?

Júnior: Meu sonho no mundo enxadrístico é o mesmo desde quando comecei, me tornar um jogador titulado pela FIDE. Acredito que com o passar dos anos, e com bastante foco e dedicação, eu consiga romper essa barreira que parece tão invencível e possa me tornar um Mestre FIDE.

Blog BM: No seu perfil do Lichess, você se define como fã do GM Anatoly Karpov. Por que você gosta do Karpov, e quais as características do jogo dele que você tenta levar para suas partidas?

Júnior: Karpov é meu jogador modelo, além de um cavalheiro dentro e fora dos tabuleiros. Um mestre do jogo posicional, e na minha opinião o jogador que mais soube utilizar a Caro-Kann (minha defesa favorita). Foi campeão mundial por mais de 10 anos, e consegue passar suas ideias e explicar seu modo de pensar com muita clareza, diferente de um Tal ou um Magnus Carlsen, que são gênios do jogo, mas muito do que eles fazem é intuitívo, existe somente na cabeça genial deles, e que dificilmente será replicado. O diferencial do Karpov é que suas jogadas são simples, objetivas e lindas, você consegue perceber como ele vai esmagando seus adversários aos poucos e levando a partida para um final com uma pequena vantagem, que na maioria das vezes ele vai vencer de forma impiedosa. Tento sempre usar suas ideias de abertura e de estratégia no meu jogo. Penso que ele seria mais recohecido se não tivesse seu auge entre o das duas lendas do esporte, Fischer e Kasparov...


Blog BM: Você teve uma brilhante atuação na Copa AXMA, sagrando-se campeão merecidamente. Quais as suas considerações sobre o torneio e sobre o seu desempenho?

Júnior: Não tenho nada a comentar, a não ser agradecer a todos os que participaram e elogiar a organização, que foi muito atenciosa com todos e não deixou acontecer nenhum problema. Foi sem dúvidas um campeonato muito divertido e acredito que todos que jogaram ficaram satisfeitos por jogá-lo.

Blog BM: E quanto aos torneios presenciais, você também participa deles? Como é o desenvolvimento do xadrez na região onde você mora?

Júnior: Pelo fato de eu morar no interior, os únicos torneios presenciais que eu joguei foram torneios não oficiais, torneios de faculdade ou organizados por amigos. Quando a pandemia passar, pretendo fazer algumas viagens para a capital do meu estado, eu já tinha planos de jogar por lá este ano. Infelizmente o xadrez onde eu moro não é muito popular.

Blog BM: Uma pergunta que faço à maioria dos entrevistados: o que você acha que está faltando para o xadrez ser mais valorizado em nosso país?

Júnior: Acredito que os brasileiros no geral são muito mais fãs de brasileiros que se destacam nos esportes do que dos esportes em si. Com o excelente trabalho que os jogadores estão fazendo nas mídias digitais (blogs, canais do youtube, etc.), não duvido que daqui a alguns anos jogadores de nível mundial apareçam por aqui e assim a mídia nacional deverá dar mais atenção para o jogo dos reis. Também existem projetos para que o xadrez se torne matéria nas escolas, provocando assim um grande "boom" na quantidade e na qualidade dos enxadrístas brasileiros.

Blog BM: Ao chegarmos ao término da entrevista, que mensagem você poderia deixar para os leitores do blog?

Júnior: Primeiramente um obrigado a você por me chamar, sou leitor do blog e fiquei muito feliz em ser convidado! Espero que todos que tenham lido possam ter tirado uma coisa aqui ou ali, e o mais importante que quero deixar é: Não deixem nunca o xadrez, esse jogo com elementos de ciência e de arte, que é simples de aprender e difícil de se dominar. O xadrez mudou minha vida e minha forma de pensar. Sempre se divirtam e claro, bom jogo a todos!



É isto amigo(a)s, espero que tenham gostado da entrevista. Acredito que o Júnior Castro tem condições de se tornar um jogador de primeira categoria, pois tem inegável talento e leva a sério o treinamento. Por falar em treinamento, considero suas dicas de treino valiosas para outros jogadores que queiram evoluir no xadrez. Irei torcer para que ele consiga concretizar o seu sonho de se tornar Mestre FIDE, e para que as previsões que ele fez sobre o futuro do xadrez brasileiro se realizem. Um abraço a todos e até a próxima entrevista! 

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