Todo e qualquer enxadrista, até mesmo os principiantes, conhecem o conceito de xeque-perpétuo, em que um dos jogadores se põe a aplicar xeques ininterruptamente, dos quais o adversário não consegue escapar, o que acaba levando a partida ao empate.
Mas e quanto ao conceito de "perseguição perpétua", será que o(a) leitor(a) o conhece? Trata-se de uma manobra parecida com o xeque-perpétuo, só que neste caso o ataque não tem como alvo o rei, e sim uma outra peça, que passa a ser constantemente ameaçada. Há dois dias eu vivenciei essa situação quando jogava uma partida de blitz pela internet. Observem com atenção a posição do diagrama abaixo:
Ahmedbahy73 (1882) vs. fabiojales (1818) - Blitz (3' + 2") |
Na posição do diagrama, retirada de uma partida que joguei no site Lichess, eu conduzia as peças negras. À altura do lance 25, tenho um peão a mais e o par de bispos, que são bem mais fortes do que o par de cavalos do meu oponente. Além disso, os peões brancos da ala da dama são todos fracos, e poderão ser capturados com facilidade no futuro. Esses fatores conferem vantagem decisiva às negras, e eu já dava a partida como vencida. Porém, eis que o inesperado acontece, e graças a um erro da minha parte se produz um caso de "perseguição perpétua".
No lance 26 as brancas acabaram de jogar h4!, um lance astuto, que prepara uma desagradável surpresa para atrapalhar meus planos de vitória. Em resposta a esse movimento, era indispensável jogar 26... h6!, criando um refúgio para o bispo de casas claras na casa h7. Todavia, na pressa de centralizar meu rei, não percebo a armadilha e jogo o fraco 26. ...Rf8?, após o qual a minha vantagem desaparece. Nesse momento, o jogador das brancas joga 27. Rf2!, atacando meu bispo. Reparem que ele só dispõe de duas casas de fuga: d3 e h3. A partida prosseguiu com 27. ...Bd3, 28. Re3 (atacando novamente o bispo) Bf1. Se agora eu jogasse 28. ...Bg6?, as brancas responderiam 29. h5, ganhando o bispo e ficando em vantagem. É interessante observar como o rei branco, os peões e o cavalo de a3, aparentemente mal colocado, retiram todas as casas de escape do bispo. Diante disso, tive que me contentar com o empate por repetição de lances: 29. Rf2 Bh3 30. Rg3 Bf1 31. Rf2 empate.
Temos aí configurada a perseguição perpétua ao bispo, mais um recurso que o lado inferiorizado pode utilizar para empatar uma partida que de outra forma estaria perdida. Sem dúvida, esta será uma lição da qual jamais irei esquecer!
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