quarta-feira, 31 de julho de 2019

ARTIGO DE XADREZ #1


O artigo apresentado a seguir, escrito por mim em 2011 e reformulado alguns anos depois, vem para reacender a eterna polêmica: quem foi o melhor enxadrista da história, Fischer ou Kasparov? Leiam e fiquem à vontade para deixar suas opiniões nos comentários... até breve! 


O maior enxadrista de todos os tempos: quem é ele?
  
Por Luiz Fábio Alves Jales


Ao longo da história do enxadrismo mundial, numerosos jogadores surgiram e brilharam em diferentes épocas, enriquecendo a prática do xadrez magistral com suas magníficas partidas, vencendo torneios e influenciando gerações de enxadristas ao redor do globo.
Dentre estes jogadores, apenas alguns poucos conseguiram compor o seleto grupo dos que alcançaram o título máximo do xadrez - o título de campeão mundial - os quais são lembrados e reverenciados por todos os amantes da Arte de Caíssa como verdadeiros “reis” desse nobre esporte.

Qual é o amador que nunca ouviu falar de José Raul Capablanca, o genial cubano que, por sua enorme habilidade, foi apelidado de “a máquina de jogar xadrez”, ou de Alexander Alekhine, seu maior rival, não menos habilidoso, que logrou arrebatar-lhe a coroa?

Tendo-se em conta a existência de vários campeões mundiais, representantes máximos do jogo-arte-ciência, naturalmente sempre houve por parte dos entusiastas do xadrez o desejo de ver respondida a seguinte pergunta: quem foi o melhor enxadrista de todos os tempos?
É claro que, como jogador e leitor assíduo de xadrez, essa questão também me interessa. Por isso, recentemente decidi pesquisar em livros e sites especializados em assuntos enxadrísticos, a fim de obter a resposta para a pergunta acima formulada, de acordo com o ponto de vista dos praticantes e estudiosos do jogo.
Em minha pesquisa, constatei que as opiniões estavam divididas entre dois nomes ilustres: Robert (“Bobby”) Fischer e Garry Kasparov. Afinal de contas, qual deles terá sido o maior expoente dessa arte até os dias atuais?
Pelo menos para mim não há nenhuma dúvida. Após anos de leituras da literatura enxadrística disponível em língua portuguesa e espanhola, estou absolutamente convencido de que o maior enxadrista da história chama-se Garry Kimovich Kasparov.
Tão certo estou a respeito disto que o resultado de minha pesquisa, sou forçado a confessar, me surpreendeu. A mim, me admira que tantas pessoas ditas “entendidas” de xadrez insistam em atribuir ao excêntrico Grande Mestre estadunidense a honra de ocupar o posto mais alto no interminável rol de proeminentes enxadristas.
Quem pensa assim certamente desconhece as façanhas acumuladas por Kasparov durante sua carreira, de modo que, com o objetivo de a ele fazer justiça, estou disposto a tentar convencer o leitor da sua superioridade sobre Fischer, realizando uma comparação entre algumas das conquistas esportivas de ambos os jogadores.
Comecemos comparando os países onde nasceram esses dois gigantes do xadrez. Bobby Fischer, nascido em 1943, era norte-americano de Chicago, enquanto que Kasparov, 20 anos mais jovem, nasceu em Baku, capital do Azerbaijão, um país (hoje independente) que integrava a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.


Em termos de tradição no xadrez, a União Soviética era muito superior aos Estados Unidos. Basta recordar que, no decorrer de sua história, os Estados Unidos tiveram (sem contar os naturalizados), talvez, cerca de meia dúzia de jogadores brilhantes, que se distinguiram no cenário internacional, ao passo que a União Soviética produziu dezenas deles, sendo durante muito tempo, mesmo depois de sua desintegração, o berço dos mais fortes enxadristas do mundo.
Para se ter uma ideia do que estou dizendo, examinemos o raking da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), divulgado em janeiro deste ano (2011). Na relação dos 20 melhores jogadores do mundo, publicada por aquela entidade, 11 deles, isto é, mais da metade, são oriundos de países pertencentes à antiga União Soviética, enquanto que apenas dois, o 10º e o 19º colocados, Hikaru Nakamura e Gata Kamsky, respectivamente, apesar de defenderem as cores dos Estados Unidos, na verdade são naturalizados (o primeiro nasceu no Japão e o segundo... na Rússia!).
Ora, o que eu quero mostrar com isso é que, para um jogador de xadrez, seria muito mais difícil se destacar entre os melhores na União Soviética, como o fez Kasparov, do que nos Estados Unidos, como ocorreu com Fischer, por causa da maior quantidade de bons jogadores, o que elevava bastante o nível competitivo nos países soviéticos. Apesar desse aparente obstáculo, a trajetória de Kasparov rumo ao topo foi meteórica: aos nove anos já era jogador de primeira categoria (isso na União Soviética, com seus milhões de praticantes!), e aos dez torna-se candidato a mestre, título que conquistaria aos 14 anos.


Com essa mesma idade, Bobby Fischer, ainda na adolescência, ganhou o campeonato nacional de seu país pela primeira vez, o que a muitos causou espanto e admiração. Kasparov, porém, disputando um campeonato muito mais acirrado, foi campeão soviético aos 18 anos, recém-saído da adolescência. Além disso, dois anos antes, em 1979, ele também provocou espanto em seus compatriotas ao vencer o fortíssimo torneio de Banja Luka, superando quase toda a elite do xadrez mundial de então.
Em relação à formação intelectual e dos interesses além do tabuleiro quadriculado, Kasparov igualmente mostra-se superior a Fischer. Este, como se sabe, tinha fama de aluno preguiçoso e abandonou os estudos aos 16 anos para dedicar-se inteiramente ao xadrez. Os que com ele conviveram mais de perto são unânimes em afirmar que ele não levava uma vida normal para um jovem da sua idade, pois não tinha nenhum outro interesse a não ser o xadrez, chegando a tornar-se obcecado pelo jogo. Já Kasparov, segundo consta, cursou faculdade e graduou-se em Letras, o que mostra que concedeu mais importância à sua formação cultural e intelectual do que o seu colega de profissão, fato que nos revela algo importante: Kasparov não precisou abrir mão dos estudos e de seus demais interesses para chegar ao topo, ao contrário de Fischer.


Outro dado que comprova a supremacia de Kasparov: Fischer, mesmo tendo largado os estudos aos 16 anos para se entregar de corpo e alma a sua paixão e preparar-se para se tornar campeão mundial (seu grande objetivo na vida), não teve um caminho fácil até o título. Somente 13 longos anos depois, em 1972, aos 29 anos, Fischer viu o seu sonho concretizado; por outro lado, tudo foi mais fácil para Kasparov, que bateu o recorde de mais jovem jogador a conquistar o campeonato mundial, em 1985, aos 22 anos! Aliás, talvez ele pudesse ter sido proclamado campeão do mundo um ano antes, se o primeiro match jogado contra Anatoly Karpov não tivesse sido interrompido pela FIDE.
Além de sagrar-se campeão do mundo mais cedo do que Fischer, Kasparov colocou destemidamente o seu título em jogo por três vezes contra Karpov (1986, 1987 e 1990), o único adversário que poderia derrotá-lo, conservando-o nas três oportunidades. Já Fischer, depois de ter conquistado o título máximo do xadrez mundial, estando ainda em plena forma, inexplicavelmente deixou de tomar parte nos torneios e jogos oficiais, limitando-se a algumas aparições em programas de TV e em competições, na qualidade de convidado.
Quando chegou o momento de pôr seu título em jogo contra o desafiante Karpov, Fischer, agindo covardemente, fez uma série de exigências absurdas a FIDE, as quais ele sabia que não seriam atendidas, para assim não ter que jogar, entregando de bandeja o título ao russo. Alguns daqueles que acompanharam as negociações do match entre Fischer e Karpov alegam que, mesmo se a FIDE tivesse concordado com as regras impostas pelo campeão, ainda assim o norte-americano não jogaria, e se esquivaria com outra desculpa qualquer.
E por que ele evitou o confronto com Karpov? A resposta, a meu ver, é simples: ele temia perder e se acovardou! Fischer sabia que, se entregasse o título para Karpov sem luta, conforme aconteceu, sua fama não ficaria tão abalada, pois muitos pensariam que sua abdicação adviria do fato de não ter tido os seus caprichos atendidos pela FIDE. As pessoas estavam acostumadas com aquele tipo de atitude, afinal Fischer já havia abandonado ou se negado a competir em alguns torneios por discordar das regras e das condições de jogo. Ao contrário, se ele jogasse e perdesse, e podem apostar que seria esse o resultado, devido ao seu longo período de inatividade, seu prestígio despencaria e sua reputação de “lenda” do xadrez seria irremediavelmente manchada!
Ao invés disso, o “Ogro de Baku”, após tornar-se o campeão mundial mais jovem da história, seguiu jogando ativamente por duas décadas, durante as quais ocupou de forma indiscutível o primeiro lugar no ranking internacional, esmagando seus oponentes e ganhando um torneio atrás do outro, convertendo-se assim no mais vitorioso enxadrista que já existiu, até aposentar-se para se dedicar à política. 


Não pretendo aqui tirar o mérito das proezas de Bobby Fischer. Ele era de fato um jogador muito forte, e sua maior façanha, sem dúvida extraordinária, foi ter quebrado a hegemonia da máquina soviética de xadrez, algo considerado quase impossível, já que seus representantes eram vistos como praticamente imbatíveis. É preciso lembrar, entretanto, que Fischer não foi o único a conseguir esse feito: depois que a coroa mundial voltou para as mãos dos soviéticos, dois enxadristas de outras nacionalidades, Anand (da Índia) e Topalov (da Bulgária) também galgaram o primeiro posto do xadrez mundial.
Como todo amante do xadrez, eu também admiro a qualidade do jogo de Fischer, portanto minha intenção não é depreciá-lo, e sim colocá-lo em seu devido lugar, ou seja, abaixo de Kasparov; afinal de contas, como podemos atribuir o título de maior jogador de todos os tempos a um enxadrista que se aposentou aos 29 anos de idade, no auge da juventude? Como atribuí-lo a alguém que, depois de tanto esforço para conquistar o campeonato mundial, se recusou a defendê-lo quando chegou a hora?? Como atribuí-lo a alguém que, tendo se tornado o campeão mundial de xadrez, nada fez pelo desenvolvimento desse esporte além de ajudar a popularizá-lo??? Trata-se, realmente, de um contrassenso.
Como se tudo isso não bastasse, temos ainda um importante detalhe que deve ser levado em consideração: Kasparov atuou num período em que o xadrez, em razão de sua constante evolução, encontrava-se em um estágio mais competitivo - e, portanto, mais difícil - do que na época em que Fischer jogou, graças ao maior número de competidores de alto nível técnico.
Concluindo, quero dizer que, por todos os argumentos aqui expostos, acredito que não restam incertezas a respeito de quem é o melhor jogador de xadrez de todos os tempos. Mesmo assim, caro leitor, se algum desavisado ainda tiver dúvidas e lhe perguntar o nome desse jogador, não hesite em responder, em alto e bom som: Garry Kasparov!

terça-feira, 30 de julho de 2019

VOCÊ SABIA?


A partida mais curta disputada em um torneio internacional de mestres é a miniatura de apenas 04 lances mostrada a seguir. Essa partida foi jogada entre os enxadristas Gibaud e Lazard, no torneio de Paris de 1924. Ela transcorreu da seguinte maneira:

1. d4 Cf6 2. Cd2 e5 3. dxe5 Cg4 4. h3?? Ce3!, e as brancas abandonaram. Obviamente, se as brancas capturam o cavalo, seguiria 5. ...Dh4+, com mate no próximo lance. Se não capturam, perdem a dama. Bom, sem dúvida este foi um erro grotesco do nosso colega Gibaud, mas pelo menos ele conseguiu entrar para a história do xadrez por causa dessa partida...




segunda-feira, 29 de julho de 2019

XADREZ E FILATELIA


Filatelia é o estudo de selos postais e dos materiais relacionados a eles.

De acordo com uma matéria da revista Super Interessante, a origem etimológica da palavra deriva “do grego philos (amor fraterno) e alethéia (livre de encargo ou imposto). Antes dos selos serem inventados, o destinatário da carta efetuava o pagamento na hora de colocar as mãos nela. Depois, claro, todo mundo passou a amar receber as coisas sem ter que ser o responsável por pagar pela entrega. Por isso, em 1864, Georges Herpin sugeriu a palavra francesa 'philatélie' para a área que começava a se destacar na época”.

Com o passar do tempo, o xadrez passou a receber inúmeras homenagens das empresas de Correios de muitos países, que lançam selos sobre o tema do xadrez em si e selos com a imagem dos grandes jogadores e dos campeões mundiais, como estes que vemos a seguir:
  







Aqui no Brasil, a enxadrista Kathiê Goulart Librelato recebeu uma homenagem semelhante e teve sua imagem transformada em selo pelos Correios, em 2014. Naquele ano, Kathiê obteve importantes conquistas: além do título no Campeonato Brasileiro Sub 20, a enxadrista catarinense, na época com 16 anos, garantiu o ouro no JASC/2014, ganhou três outros na OLESC/2014 (xadrez rápido, blitz e xadrez pensado), foi campeã do Festival Catarinense da Juventude (FECAJ)/2014 e campeã estadual feminina/2014 na categoria adulta.




Por fim, aqui vai uma curiosidade sobre o ex-Campeão do mundo Anatoly Karpov: ele é um fanático colecionador de selos, e conta-se que em certa ocasião chegou a gastar 60 mil dólares para comprar um selo raríssimo! Quanta excentricidade, hein amigos?