quinta-feira, 11 de julho de 2019

SEÇÃO MEMÓRIA


Há exatos 47 anos, no dia 11 de julho, foi disputada a primeira partida daquele que ficou conhecido como o "Match do Século", entre o russo Boris Spassky e o estadunidense Robert (Bobby) Fischer, válido pelo Campeonato Mundial de 1972.

De todos os embates pela coroa do xadrez, ocorridos até hoje, nenhum atraiu tanto o interesse do público e exerceu tanto fascínio sobre a comunidade enxadrística quanto o match entre Spassky e Fischer, isso porque o evento extrapolou o âmbito esportivo e se inseriu no contexto da chamada Guerra Fria, um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica envolvendo as duas nações mais poderosas da Terra, os capitalistas norte-americanos contra os socialistas soviéticos.


Boris Spassky e Bobby Fischer, dois grandes ícones do xadrez e da Guerra Fria


É importante destacar que este também foi o match mais conturbado da história, que quase acabou antes mesmo de começar, por causa dos entraves impostos por Bobby Fischer! Em primeiro lugar, Fischer não concordou com a realização do match na Islândia, pois ele desejava jogar na Iugoslávia. Depois de um grande impasse, Fischer só cedeu quando Max Euwe, na época o Presidente da FIDE, ameaçou desclassificá-lo e designar Petrosian para enfrentar Spassky. Posteriormente, Fischer não compareceu à Cerimônia de Abertura, que aconteceu no dia 1º de julho, sem a presença dele. Enquanto todos o aguardavam em Reykjavik, capital islandesa, Fischer permanecia trancado em seu apartamento, recusando-se a jogar. A primeira partida havia sido programada para o dia 02 de julho, mas nada de Fischer aparecer... foi então que entrou em ação o Presidente Euwe, o qual convenceu a delegação soviética a adiar o início da disputa, dando a Fischer o prazo de mais dois dias para chegar à Islândia, ou seja, ele deveria se apresentar até o meio-dia de 04 de julho.

Temeroso de que o confronto não se realizasse, e sabendo que isso seria ruim para a imagem do seu país, o Conselheiro Nacional de Segurança dos Estados Unidos, Dr. Henry Kissinger, telefonou para Bobby na tentativa de convencê-lo a ir jogar. Mesmo assim, o chamado do influente burocrata não foi o suficiente para tirar Fischer da sua inércia. Somente quando um magnata britânico, Jim Slater, resolveu doar 50 mil libras para o pagamento da premiação do match, dobrando o prêmio para 250 mil dólares, foi que Fischer finalmente pegou um avião e partiu rumo a Reykjavik, desembarcando lá na manhã do dia 04 de julho, bem a tempo de cumprir o prazo estipulado!

Depois de não comparecer ao sorteio das peças da primeira partida por ter dormido demais (ao invés disso mandou seu segundo, o GM William Lombardy, para representá-lo) e de precisar formalizar um pedido de desculpas por escrito ao campeão Spassky, por causa dos contratempos, Fischer procurou apaziguar as coisas. Finalmente, no dia 11 de julho de 1972, a primeira partida desse fantástico encontro foi realizada, com Fischer chegando atrasado 6 minutos ao palco onde seriam disputados os jogos.


Fischer cumprimentando o árbitro Lothar Schmid, outra figura que teve um papel fundamental na realização do match


A primeira partida, uma das mais famosas do match, rapidamente se encaminhou para um final empatado, porém, no 29º lance, Fischer, jogando com as pretas, efetuou a polêmica e equivocada captura Bxh2?, permitindo a troca do seu bispo por dois peões brancos. Esse movimento, aparentemente um erro de principiante, tem sido discutido até hoje, mas nunca foi satisfatoriamente esclarecido. O fato é que, mesmo em desvantagem material, análises mostram que Fischer poderia ter empatado a partida, se tivesse feito os lances mais precisos na posição. Contudo, apesar de ser reconhecido por seu virtuosismo técnico e por sua habilidade na condução dos finais, o desafiante não conseguiu salvar a partida e o campeão Spassky converteu a vantagem em vitória, largando na frente no placar.


Teria sido esse o momento em que Fischer cometeu o erro de capturar o peão "envenenado" de Spassky?


A disputa prosseguiu com Fischer não comparecendo para jogar a segunda partida e perdendo por WO. Ao longo do embate ele continuou causando novos transtornos a Spassky, ao árbitro Lothar Schmid e aos organizadores, como também fazendo exigências estapafúrdias, tudo isso para desestabilizar psicologicamente o seu adversário, segundo a versão mais aceita... mas isso já é assunto para um outro artigo. Até breve!

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